Ares do Índico - part 1
“Não sejas duro”, disse o Obadias quando soube que eu ia começar a escrever uma coluna para um jornal português. Como em todos os países de língua portuguesa, as diferenças e semelhanças andam sempre junto da mesma linha e Moçambique não é excepção. Mas falar de Moçambique nos dias de hoje significa falar de Maputo e do resto do país que o envolve, já que tudo se passa na capital do país durante a semana e no resto do país que o envolve ao fim de semana. Posso dizer que a minha experiência neste imenso país ainda está um pouco aquém das expectativas, já que o raio de aventura ainda não passou dos 500 kms, tendo em conta que ainda tenho uns milhares disponiveis. Mas cada dia é uma aventura e se fazer turismo em África é uma experiência única, que tal juntar o prazer de viajar ao de trabalhar durante a semana num país tão rico e ao mesmo tempo tão pobre. Acordar com o nascer do sol ás 5 da manhã e sentir o calor das 2 da tarde ainda antes de ter tomado o pequeno almoço. Ver a cidade sufocar de pessoas, carros, tchovas (vendedores ambulantes) até se perceber que afinal não são só as grandes cidades cosmopolitas que sofrem de problemas tão comuns como trânsito, buzinas e muito stress! (não esquecer que em Moçambique se conduz á direita, ou seja á inglesa). Mas se os problemas são como em qualquer grande cidade ocidental, as alegrias ás vezes são feitas de gestos tão pequenos que é dificil de imaginar em outra parte do mundo. Ainda está presente quer na mente quer na própria cidade e seus habitantes que há pouco mais de dez anos atrás Moçambique era um, senão o mais pobre país do Mundo. As diferenças surgem a cada esquina e o instinto de sobrevivência ainda não baixou os braços, mesmo com a ajuda de tantas ONG´s. Mas nada disto era assim quando Maputo se chamava Lourenço Marques, pelo menos pelas fotografias que vi de um livro sobre a mesma cidade á mais de 20 anos atrás. Os testemunhos saudosistas de muitas pessoas de alguma idade também o comprovam e algumas reliquias que ainda ficam do tempo em que Moçambique era uma jóia em bruto. Os encantos ainda cá estão todos e só é preciso ter á disposição um carro 4*4, uma boa dose de espirito de aventura e saber aproveitar em cada quilometro de estrada, picada ou de areia as mil e uma maravilhas que este país tem á disposição. Não há nada melhor do que fugir da cidade e encontrar a poucos quilometros de distância praias desertas, animais que fazem qualquer jardim zoológico europeu corar e pessoas nos lugares mais incriveís possam imaginar. O sol a girar ao contrário, a água sempre quente e sentido de imensidão em qualquer lugar em que se pára o carro para disfrutar das paisagens a perder de vista. Mas uma coisa é certa, por muito grande que este país seja, não é fácil estar sozinho. Só quem vive, viaja e anda por Moçambique sabe como é encontrar alguém a passar numa estrada ou num caminho ou no meio do nada. Os problemas parecem desaparecer quando se começa a perceber que a verdadeira beleza deste país está para lá de tudo aquilo que os catalogos de viagens, brochuras de hotéis, jornais e telejornais mostram. O cheiro, os sabores e a intensidade deste país ainda estão muito longe de serem pobres e ninguém quer deixar isso ao acaso
in: Semanário Económico, CASUAL
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