sexta-feira, novembro 09, 2007

Ares do Índico - part 2

A distância tem destas coisas. Mais um fim de semana prolongado graças ao feriado que celebra o Acordo Geral da Paz em Moçambique, dia 4 de Outubro. Para muitos as celebrações do feriado são feitas nas cidades com discursos politicos e festejos. Mas os que festejam o feriado a 5 de Outubro, como é o meu caso, aproveitam para viajar atrás do sol e praias paradisiacas. O destino foi Chizavane, uma terra a 50 quilometros do Xai-Xai, em que uma grande parte deles são feitos no meio do mato, sinal de praia deserta e pouco movimentada. Muito calor a contrastar com as nuvens e chuvas de Maputo, muito atipicas para esta altura do ano, mas também onde será possivel prever alguma estação do ano com exactidão nos dias de hoje?? Mantimentos descarregados e muita preocupação para que nada falte nestes dias de sol, mar e muito descanso. Quando se pensa que longe das grandes capitais e centros urbanos é dificil encontrar alguns caprichos, estes dias foram mais uma prova de que isso é mentira. Num dia menos ensolarado e com alguns quilometros feitos no meio do nada conseguimos encontrar quem nos vendesse um javali, pronto a assar na brasa. Como se isso não bastasse um contentor de mercadorias muito velho e bastante deslocado das suas origens serve de mini mercado no meio de uma povoação isolada e de tudo um pouco é possivel comprar, até mesmo o remédio sagrado para a malária, o famoso gin tónico! No último dia de descanso e já com as baterias quase carregadas para mais umas semanas de trabalho, surge na praia um pescador local. Apenas lhe pedimos que nos venda todo o peixe que apanhar nessa manhã, tal era o desejo de comer peixe fresco. Ao fim de meia hora e de algumas investidas no mar voltámos para casa com mais de 10 quilos de peixe acabado de ser pescado e ainda vivo. É dificil imaginar tudo isto, mas a realidade é que isto aconteceu. E acontece muitas vezes quando se deseja ter algo que se pensa ser impossível. A vontade de sair dum lugar destes para regressar a casa e ao trabalho é muito dificil, ao mesmo tempo que se percebe que com tão pouco dinheiro se consegue ter uma qualidade de vida excelente. O tempo passou mas ainda deixou milhares de quilometros de natureza intacta e de população que nunca viu um veículo a motor ou mesmo alguém de cor diferente da deles. A estranheza é tão grande que muitas vezes as pessoas fogem ao verem que um carro se aproxima deles. Algumas vez iremos sentir isso?

in: Semanário Económico, CASUAL