segunda-feira, dezembro 24, 2007

Ares do ídico - Especial Natal

Pai Natal:

Começo por avisar que este ano estou em Moçambique, Maputo para ser mais preciso. Não é preciso dizer que me portei muito bem durante o ano de 2007 e que por isso mereço uma visita e pelo menos um presente! Tens de ter muito cuidado quando estiveres a chegar a Moçambique porque estamos na altura das festas e o movimento é muito grande, além de que aqui se conduz á esquerda ou seja, tens que ter muito cuidado para não andares com o teu trenó de renas em contra mão. Está muito calor e como teu amigo devo desde já avisar que deves este ano deixar o teu fato encarnado em casa e trocar por uns calções de banho, assim podes ir deixar o meu presente à praia da Ponta do Ouro e ainda dar um mergulho comigo! Sabias que aqui não há muito o espirito de Natal como nós temos em Portugal. Não só pelo facto de ser um país muito pobre e ainda a tentar lutar pelo seu desenvolvimento. Para quem está habituado ás luzes de Natal e todas aquelas decorações que são feitas para esta época do ano, aqui vai sentir que o Natal passa sem se dar por nada. Parece que tudo está ao contrário, e está mesmo. Por esta altura, em Portugal ou em outros países da Europa as pessoas aproveitam o tempo ao máximo para ir comprar os presentes de Natal e fazer os últimos preparativos da ceia de Natal, aqui em Moçambique temos que aproveitar todos os tempos disponíveis para ir até à piscina mais próxima ou quando o tempo estica mais um bocadinho ir até à praia. Está mesmo muito calor, e mesmo quando chove, o calor não dá tréguas. Mas como tudo na vida, temos que nos adaptar ás mudanças e viver com aquilo que temos. Para ser sincero, ás vezes até sinto falta do frio, das luvas, do cachecol e do gorro e de andar por Lisboa ( a minha cidade ) a percorrer as ruas iluminadas e enfeitadas com todas as decorações de Natal, as montras cheias de neve de algodão e mais uns quantos promenores deliciosos que só conseguimos dar mais valor quando estamos nestas situações de distância. Mas a verdade seja dita, passar o Natal na praia é um luxo, com os pés de molho em água quente, camarão e lagosta a substituir as filhoses, ameijoa e lulas no lugar dos frutos secos e mais umas quantas iguarias de comer e chorar por mais. O bacalhau é claro que não falta de qualquer que seja maneira de cozinhar. Não é fácil de encontrar a bons preços e a qualidade nem sempre é a melhor, mas a intenção está lá. Até porque sabe sempre melhor a roupa velha no dia de Natal, dentro de uma caixinha, acompanhado por um gin tónico ou uma cerveja e lá está, com os pés de molho na praia! Como eu gostava de ver o Pai Natal com as barbas de molho, com um gin tónico na mão! Esse sim era uns dos presentes que eu gostava de ter este ano, além de muita paz e amor no mundo, saúde para todos e que me saísse o euromilhões. O Natal em África tem um significado diferente, pelo menos visto por mim, já que esta altura do ano é verão e a grande parte das pessoas aproveita esta época do ano para ir de férias, viajar, passar algum tempo com a família que está longe, ou mesmo visitar a que está no estrangeiro. Para os expatriados é altura de ir a casa, Portugal, matar saudades da família e da mesa recheada e voltar o mais rápido possível para o fim do ano na praia. Por isso é um pouco difícil de descrever o espírito natalício em Moçambique. Que nada tem a ver com o nosso Natal e é vivido como um período de férias grandes em que se aproveita para viajar para o mais longe possível. Por isso, querido Pai Natal, não te esqueças de mim!

in: Semanário Económico, CASUAL