segunda-feira, dezembro 24, 2007

Ares do Índico - part 6

Quem foi que disse que a galinha do vizinho não é muitas vezes melhor que a minha? Na semana passada estive em mais um província moçambicana, neste caso a de Gaza, mais concretamente no distrito de Massingir. O trabalho consistia em pôr de pé um evento onde iria estar presente o Presidente da Républica de Moçambique para lançar a primeira pedra de um mega projecto de bio-combustível, etanol. As energias alternativas começam a ser cada vez mais apeteciveis para os grandes investidores estrangeiros, principalmente em países como Moçambique que possuem grandes áreas de cultivo disponível e mão de obra a um preço relativamente baixo. As garantias de sucesso para projectos deste tamanho são bastante elevadas e não há quem agradeça mais com este tipo de iniciativas do que a população que está fora dos grandes centros urbanos. Apartir da cana de açucar é possível chegar ao etanol como combustível alternativo aos derivados do petróleo, como também produzir açucar refinado e ainda energia eléctrica para consumo doméstico.É preciso encorajar este tipo de iniciativas, apesar de, como em qualquer outro lugar do mundo ter de satisfazer várias pessoas até se conseguir ver algum resultado. Coisas da vida e dos negócios! A história da galinha surge num desses dias perdido no meio do mato moçambicano, paredes meias com o parque natural do Limpopo e o Kruger Park. Era preciso alimentar muitas bocas e como o trabalho não faltava para ninguém, calhou-me a mim ir buscar o mata bicho (termo moçambicano utilizado como paragem a meio da manhã para recarregar baterias e o estômago), para uma parte dos trabalhadores. Chegado ao único restaurante da vila de Massingir, e com uma ementa variada de dois pratos que iam da sandes de ovo até ao frango no churrasco com xima (espécie de puré feito com farinha, água e sal), desta vez optei por presentear o pessoal de trabalho com frango. O tempo de espera é sempre um factor de risco e muito maior do que se pode encontrar em qualquer outra churrasqueira de bairro, já que ao fim de algum tempo a viver em Moçambique, também já me adaptei aos horários normais e aos horários moçambicanos. Horário normal é aquele que funciona à hora marcada, o horário moçambicano é aquele que funciona sem horas e muitas vezes sem presenças, como se costuma dizer, serve para nada! Mas qual foi o meu espanto quando o dono do restaurante me disse que o processo iria demorar um bocadinho mais do que o previsto porque ainda tinha que ir falar com o seu vizinho para ver se ele lhe dispensava algumas das suas galinhas de forma a poder satisfazer o meu pedido. Galinhas encontradas, agora só faltava matar e depenar o nosso almoço, processo que eu já não assisti e que aproveitei o tempo para tratar de outros afazeres. Para aqueles que poderiam pensar que o famoso frango no churrasco vinha de uma embalagem de dentro de um congelador de supermercado, engana-se. Muitas vezes vem do quintal do vizinho... Certos prazeres da vida têm outro encanto em situações como estas, onde tudo falta e o pouco que há sabe como ostras e caviar!

in: Semanário Económico, CASUAL