segunda-feira, dezembro 24, 2007

Ares do Índico - part 5

Para muitos, África é sinónimo de um continente desconhecido onde tudo é selvagem e virgem. A ideia de viver ou viajar para um dos muitos países de África provoca um misto de emoção, aventura e pânico! Não é muito difícil encontrar opiniões de pessoas que julgam que qualquer que seja o país da África Austral, os leões andam soltos pela rua, os macacos a passear em todas as árvores e mais umas quantas descrições tiradas do filme do Mogli, o Livro da Selva, que apesar de ser uma banda desenhada inspirada na selva indiana e que vai ser apresentado com uma nova edição alusiva aos seus 40 anos de existência, não deixa de alimentar o imaginário de todos aqueles que nunca viram um animal vivo a não ser no jardim zoológico! E quem diria que depois de passar horas seguidas, muitas unhas roídas, dias intermináveis de gargalhadas e de sustos, sempre a queimar as pestanas para não perder um único segundo das aventuras do pequeno Mogli no meio da floresta, um dia seria eu o escolhido para viver todas essas aventuras e sentir todas as emoções de não só sair de casa, como do meu país e ainda do meu continente. Parece uma descrição um pouco dramática e nostálgica, mas só quando se sente uma mudança destas na pele é que é possível dar valor a tudo aquilo que nunca nos passou pela cabeça. O bom e o mau andam sempre de mãos dadas e cada vez mais os pequenos prazeres da vida são aqueles que nos dão um sorriso de orelha a orelha e nos deixam na espectativa de podermos todos os dias sentirmos aquela mesma sensação. O desconhecido acompanha qualquer um que viva em África. O poder de andar por caminhos onde provavelmente nunca ningém andou e ver aquilo que nunca ninguém viu, faz com que muitos não queiram mais sair daqui ou pelo menos, nunca mais deixar que África saia do seu coração. Como em tudo na vida e como já referi antes, o bom e o mau andam sempre de mão dada e não é nada, mas mesmo nada dfícil encontrar e ver situações e pessoas que dão a pior das imagens possíveis, tornando cada vez maior a distância entre povos e culturas, por apenas alguns dias de prazer íngrato ou por alguns milhões ganhos com a miséria e desconhecimento de muitos. O poder das novas gerações está na simbiose criada entre o trabalho e o lazer, a diversão e o voluntariado. Não só por ser Natal, mas por estar em África. Voluntariado é como o Natal, é sempre que um Homem quiser. As imensas necessidades básicas em quase todos os sectores da população, faz com que nunca seja demais uma mão amiga, uma peça de roupa, um pedaço de pão e muitas vezes um ouvido de alguém, que por muito difícil que seja de entender os mais de vinte dialéctos existentes em Moçambique, para ajudar a dar a conhecer o que de novo há para além de Moçambique como para saber o que de tão puramente virgem existe nesta imensa terra que através de ganância e ódios é destruída e vendida a troco de nada. O voluntariado tem um peso e uma importância enorme, muitas vezes confundida com o facto de estar a substituir a população e a sua auto-motivação para aprender e fazer por desenvolver as suas necessidades básicas do dia a dia. O voluntariado começa a ser uma arma de dois bicos e muitas pessoas querem que isso deixe de acontecer. Não é por alguma razão que se chama calamidades aos desastres naturais que ninguém pode prever ou antecipar, aqui, calamidades ´o nome que se dá aos mercados onde são vendidas as roupas e outros bens que são doados não só para as causas do voluntariado, como também através de instituições religiosas. O espanto daqueles que depois de umas férias menos luxuosas e de algumas aventuras por dentro da vida urbana de Maputo conseguem encontrar em algum lugar mais inesperado uns ténis ou uma camisola ou até mesmo um brinquedo que foi dado a alguma instituição religiosa ou não, para daí ser encaminhada para os países mais necessitados. Não é por ser Natal, nem por ser Moçambique, nem por ser eu. Mas só quando se está a viver com estas situações que dá para ver a diferença da televisão para a realidade, que muitas vezes não é nada abonatória.

in: Semanário Económico, CASUAL