sexta-feira, maio 23, 2008

Ares do Índico - part 16

Relíquias de Lourenço Marques

Pérolas do passado, jóias do presente. Em cada rua, em cada esquina, em todas as cidades de Moçambique encontramos uma obra de arte esquecida e ignorada por quase todos. Quase todos! Arquitectos, engenheiros, pintores, músicos e muitos mais. Todos artistas e todos deixaram a sua marca. Nem os anos nem a destruição da guerra conseguiram anular as imensas preciosidades que foram deixadas pelos nossos artistas de outras épocas. Depois de tantos anos e de uma evolução desenfreada, ainda é possível dizer que a herança deixada em Lourenço Marques torna Maputo numa cidade de encantos. Os portugueses agora são tugas. Os senhores agora são bosses! Aos poucos e poucos a história repete-se e tudo volta ao que era, ao que foi. Quem partiu levou na lembrança tudo aquilo que jamais voltou a encontrar, e quem chega procura pelo que possa ter ficado de quem já partiu. Não existe ninguém que não tenha uma boa história para contar, uma grande aventura para relembrar os bons velhos tempos, as relíquias de Lourenço Marques, as jóias de Moçambique. Mas agora é a nossa vez. Não de relembrar a historia mas sim de começar uma de novo, do principio. Criar aquilo tudo que será lembrado daqui a muitos anos, por todos aqueles que ainda estão a ser projectados para um dia herdarem o que é nosso, alguns já vêem a caminho! Do Maputo ao Rovuma perdem-se de vista as memórias e as lembranças dos tempos incríveis vividos ao segundo e ao sabor do momento. Agora desespera-se para poder acompanhar o passo do futuro, desenvolver ao máximo tudo o possível e imaginário na esperança de poder alcançar o passado, ou pelo menos conseguir fazer o suficiente para quando a altura do descanso merecido chegar, conseguir saborear aquilo tudo que há muitos anos foi um paraíso esquecido. Lá. Onde o sol se põe ao contrário e onde as horas não mudam, nem no verão nem no inverno. Lourenço Marques foi há muito tempo. Maputo tenta esquecer e acompanhar a evolução. Quem vem quer as pérolas de Lourenço Marques, mas paga pelas jóias de Maputo na esperança de conseguir fazer com que o tempo ande para trás, para as lembranças do passado. As casas lindas de morrer, sumptuosas ao ponto de não ser possível imaginar como alguém pôde ter ousadia para tanto. Monumentos que mais parecem deslocados de outras partes do mundo e plantados em Moçambique com um precisão de artista. Memórias que não acabam nunca e que continuam a fazer com que este país se torne numa caixa de surpresas para quem aqui chega, pela primeira vez ou pela primeira vez depois das outras vezes todas.


in: Semanário Económico, CASUAL