sexta-feira, maio 23, 2008

Ares do Índico - part 14

Migração ou não?
Que todos os jovens ou uma grande parte deles olham cada vez mais para o estrangeiro como uma oportunidade de trabalho e de uma vida melhor, já se sabia há algum tempo. A cada dia que passa, é impressionante ver a quantidade de pessoas com menos de 30 anos que chegam a Moçambique, através de Maputo à procura de oportunidades novas e diferentes. De todas as nacionalidades e cantos do globo vão chegando de carro, avião ou de boleia diversas pessoas que desistiram e abandonaram tudo na sua terra natal para encontrar em África desafios e realizações pessoais. Técnicos de acção social encontram aqui uma diversidade gigante de oportunidades, muitas delas fora dos centros urbanos onde tudo falta e ainda nada chegou, resultado de um desenvolvimento bastante mal sustentado. Economistas e gestores encontram em diversas empresas e organizações não governamentais trabalho e na maioria das vezes uma oportunidade única de poder trabalhar e ao mesmo tempo transmitir todos os ensinamentos adquiridos. Advogados exercem aqui em Moçambique as leis praticamente comuns aos dois países, Portugal e Moçambique. Designers, realizadores, publicitários e afins dão uma ajuda preciosa no desenvolvimento dos negócios e da própria imagem do país. É mesmo impossível não encontrar um estrangeiro em quase todas as grandes empresas de referência em Moçambique, assim como em certos negócios mais especializados. Apesar de África possuir características absolutamente únicas, o aumento do desejo em trabalhar, viver e experimentar um tipo de vida que não é fácil e muitas vezes angustiante ao ponto de desistir e voltar ao ponto de partida. Não é para todos ou para qualquer um. É preciso ter um grande jogo de cintura, saber contornar as dificuldades e enfrentar com um sorriso na boca os desafios do dia a dia. Quem não gosta de viver praticamente o ano inteiro com sol e calor? Trabalhar a cinco ou dez minutos de distância de casa, onde é possível ir almoçar todos os dias. Deixar os filhos em casa ou na escola e passar com eles grande parte dos dias! Viajar quase todos os fins-de-semana para praias desertas e paradisíacas a um custo relativamente baixo. Em época de Páscoa em Portugal, ficam aqui alguns aperitivos que podem ajudar algumas mentes indecisas a experimentar no estrangeiro aquilo que não se consegue encontrar mais perto de casa! Infelizmente em Moçambique não existe o feriado da Páscoa e os respectivos ovos, e o coelhinho da Páscoa foi com o Pai Natal ao circo e ainda não voltou! A família começa a ser substituída nestas alturas pelos amigos e colegas de trabalho que fazem com que os festejos sejam diferentes e mais descontraídos. Num país onde o significado da família é bastante grande e as próprias famílias são ainda maiores, quem está acostumado a viver estes feriados especiais e tradicionais, aprende a ajustar a roupa ao feriado e a praia como pano de fundo para qualquer celebração. Natal, Ano Novo, Carnaval, Páscoa, São Martinho e por aí em diante, é sempre na praia! Resumindo e concluindo, para quem pensava que nas ex-colónias apenas se encontrava a velha guarda portuguesa engana-se. Grandes novos talentos andam à solta em África, trabalhando, ensinando e formando na medida do possível um povo sedento de informação e de novas oportunidades de aprendizagem com aqueles que têm uma perspectiva do mundo com outros olhos. Se ao menos o preço das viagens fosse mais barato, ainda pensava ir a Portugal matar saudades de umas amêndoas e de uns ovos da Páscoa!

in: Semanário Económico, CASUAL