sexta-feira, março 07, 2008

Ares do Índico - part 10

Gwaza Muthini

Estamos no pico do verão, calor para dar e vender! Milhares de pessoas nas ruas aproveitando todos os instantes para fazer a festa, alguns chegam de chapa ou em machibombos, outros de carro e alguns de avião, vindos dos mais variados pontos do mundo. Muita cerveja, muita mesmo. Ingredientes necessários que garantem uma receita de sucesso de Carnaval. Para os mais desatentos esta descrição podeira ser sem tirar nem pôr uma vírgula de mais um ano de Carnaval no Brasil, mas não é. Apesar de já ter vivido o Carnaval do Rio de Janeiro e sentido na pele todas as emoções e sensações de um Carnaval único no mundo e sem comparações possíveis. É impossível falar desta época do ano independentemente do lugar do mundo onde se esteja sem fazer qualquer tipo de referência ao Carnaval sem ter como termo de comparação o Carnaval brasileiro. Mas em Moçambique a festa também se faz, de maneira diferente mas com objectivos semelhantes, divertimento puro e duro e muita animação. Vive-se o feriado dedicado à memória de todos os Heróis Moçambicanos. Não se vêem máscaras nem mascarados nas ruas, nem mesmo as eternas serpentinas e confétis. A festa é feita de outra forma e com uma intensidade diferente. O ritmo do samba é substituido pelos sons quentes e puramente africanos da Marrabenta, que tomam conta da cidade durante estes três dias de um fim de semana prolongado. Por aqui e ali vão sendo feitas festas e concertos, mais ou menos genuínas mas sempre com muita participação de todos os locais assim como por parte dos muitos estrangeiros que aproveitam esta altura do ano para gozar alguns dias de descanso longe de tudo e todos a quem estão ligados o resto do ano. Saborear o marisco e o gin tónico no continente africano tem de sombra de dúvidas um gosto especial, além de um leve peso na carteira! A poucos quilómetros de Maputo, no distríto de Marracuene é celebrada uma festa única e singular. O Gwaza Muthini é celebrado todos os anos por esta altura como uma cerimónia de apelo à paz e à harmonia e acima de tudo à fartura alimentícia. Depois de muitos anos de celebração, este ano teve como ponto alto da festa a oferta á população de um hipopótamo. Caçado nas redondezas de Marracuene o animal é depois repartido pela população não só a local mas como toda aquela que aproveita para se deslocar ao local para ver e viver este momento singular do povo moçambicano. Os concertos de música Marrabenta ditam o mote e o canho é a bebida oficial e tipicamente moçambicana fabricada apartir de cana de açúcar que não pode ser vendida mas sim oferecida gratuitamente por todas as pessoas que participam no Gwaza Muthini. Durante um dia inteiro todos são benvidos a participar e a comemorar um ritual moçambicano e com raízes que remontam os primórdios desta cultura. A esperança que é depositada durante a cerimónia ultrapassa a imaginação de qualquer um de nós e os resultados são esperados com muita ansiedade e alegria. Não é todos os dias que se têm a oportunidade de beber canho, nem de ouvir Marrabenta, mes especialmente de comer carne de hipopótamo! É o Gwaza Muthini, para os outros é o Carnaval!

in: Semanário Económico, CASUAL