Ares do Índico - part 12
Lei da oferta e da procura?
Alguns assuntos são bastante delicados de abordar e este é sem sombra de dúvidas um deles. O turismo sexual. Não vale a pena virar a página ou fechar os olhos para não perceber e ver realmente a verdade nua e crua. Como todos sabem, não é nem nunca será um problema exclusivo de África, mas sim de todos os países onde a pobreza e as diferenças sociais são abismais, onde as paisagens paradisíacas são uma constante, e acima de tudo onde as leis assim o permitem. Em muitos países é um cartão de visita para umas férias bastante melhores que o habitual ou uma viagem de negócios menos aborrecida e enfadonha. Só não vê quem não quer e quem não está cá, como é óbvio. São várias as histórias que se vão contanto por todas as partes do mundo sobre as famílias paralelas dos trabalhadores expatriados, que na solidão e na saudade da distância encontram nas inocentes mas experientes africanas a companhia ideal para colmatar essas carências. As viagens de negócios que são adocicadas com os prazeres da carne, a troco de nada. Os desastres profissionais em África e neste caso em Moçambique são frequentes. É fácil ouvir e saber de histórias de pessoas que vêem nos países da África sub sahariana uma oportunidade de enriquecimento rápida e ainda de grande oferta sexual. Ao fim de alguns dias ou semanas, são muitos aqueles que começam a deixar para trás as responsabilidades laborais e extra laborais para se dedicarem a tento inteiro a uma causa perdida e que sem eles saberem os vai levar à desgraça. Para quem vê isto tudo acontecer pelo lado de fora, não há nada a fazer que não seja um simples cruzar de braços e abanar de cabeça. Toda a informação está vivamente presente. Todos sabem onde são os lugares e locais onde a oferta vai ao encontro da procura e vice-versa. Não obstante das doenças mortais associadas e espalhadas por todas as esquinas, as mentiras e esquemas, e todo um jogo de sedução básico mas muito particular, não há quem resista, principalmente quando a predisposição existe e com muita vontade. Ao contrário do Brasil, onde já vivi durante muito tempo com este mesmo problema lado a lado, em Moçambique é muito diferente. Não só pela cor, porque aqui qualquer cor de pele que não seja negra é sinónimo de dinheiro e abundância do que quer que seja, mesmo que a aparência seja a pior possível, os centros urbanos são demasiado pequenos para quem está habituado a outras capitais de países mais desenvolvidos e não é com surpresa que ao fim de dois ou três dias em Maputo se saiba quem chegou, onde está a viver, com quem trabalha e por onde anda. Não é ficção é mesmo realidade. A oferta anda por todo o lado, mesmo que não se queira nem se procure, o conceito é tão forte e tão apelativo que o pudor está cada vez mais esquecido e dá lugar muitas vezes ao aberrante. Homens feitos, provavelmente pais de outros homens já feitos, passam a imagem de virilidade e opulência sexual para alegria das jovens, muitas delas sem ainda terem atingido a maioridade, que podem assim desfrutar de tudo aquilo que nunca serão capazes de alcançar. Os restaurantes, as discotecas, as compras, as lojas, os hotéis, o que quer que seja é bem-vindo. É a realidade. Os troféus exibem-se de parte a parte. Eles com os seus mini haréns de curta duração e elas com uma subida exponencial na pirâmide do salve-se quem puder. Não há nada a fazer, pois a oferta é igual à procura. Ambos sabem onde está e como lá chegar, o que fazer para a conseguir e as desculpas para deixar tudo para trás. Declarações de amor eterno à primeira vista e de fidelidade para o resto da vida, com a promessa de deixar para trás um passado triste e real. E agora, de quem é a culpa?
in: Semanário Económico, CASUAL
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