segunda-feira, novembro 26, 2007

Ares do Índico - part 4

O calor é sufocante. Ninguém diria que estamos a chegar ao Natal, a não ser pelo calendário! Para os ocidentais esta época significa frio, árvores de Natal, compras e muitas surpresas. Em Moçambique existem alguns pormenores que nos fazem perceber que estamos longe de casa, e não é só por causa do bacalhau. Os dias começam a ficar cada vez mais quentes, ao ponto de chegar a ser desesperante. Cada oportunidade é boa para tomar um banho e fugir ao calor. Os ares condicionados, além de serem um bem essencial chegam a tornar-se uns dos melhores amigos do homem! As decorações de Natal resumem-se a algumas lojas espalhadas pela cidade que aproveitam esta altura do ano para investir um pouquinho mais em publicidade, mesmo que esse investimento venha a fazer parte das surpresas da época! O bolo rei está quase a aparecer, só falta saber se este ano ainda vem com brinde. No capítulo das compras tenho que referir que este mês foi muito importante para todos os moçambicanos e em especial para todas as senhoras, qualquer que seja a idade. Foi inaugurado pela segunda ou terceira vez e abriu as portas ao público pela primeira vez, o Shopping de Maputo. Muito necessário para a altura do ano que estamos a atravessar, o Shopping abriu com alguns atrasos mas sempre cheio de boa vontade, apesar de metade ou mais de metade das lojas do dito espaço ainda estarem à procura de dono. A oferta é muita, mas ainda que limitada. Dos sapatos aos telemóveis, com algumas lojas de roupa e um supermercado generoso, onde se conseguem encontrar algumas relíquias que nem no nosso querido Portugal é possível. A parte as suspresas da época de Natal, para mim é a melhor. Qual foi o meu espanto quando percebi que para mim havia chegado o Natal na manhã de segunda feira, logo depois de ter posto o carro a trabalhar para começar mais uma semana de trabalho e reparo que não tinha espelhos no carro! Não é normal, mas os piscas já tinham tido a mesma sorte no mês passado, e por isso tive a confirmação, o Natal chegou. O que o pai Natal dá, por aqui alguém tira, sempre na esperança que o dono vá buscar os seus pertences e pague por eles. Para aqueles que a sorte da vida foi madrasta, o último reduto fica-se por serem os responsáveis por estas belas surpresas. É de referir que nesta altura do ano, tudo o que é peças de automóvel que não esteja bem presa, colada, marcada com algum sinal ou matricula do carro ou mesmo presa com rebites, pode ser incluida na lista de presentes a pedir ao Pai Natal. Espelhos, piscas, escovas limpa vidros e os outros dois items que variam de marca e modelo de automóvel, estão entre o top 5 das preferências dos amigos do alheio. Por isso, ao meu Pai Natal vou pedir este ano, além de muita paz, amor e saúde para todos, uma garagem para poder trancar o meu carro ás sete chaves! Não querendo ferir suspceptibilidades com esta descrição, mas prefiro gastar dinheiro naquilo que faço melhor que é viajar, do que andar a comprar vezes sem conta aquilo que já é meu!!

in: Semanário Económico, CASUAL

Gel de Banho

Desde alguns anos a esta parte que deixei de usar sabonete para tomar banho. Não só pelas histórias que se ouvem constantemente sobre os variados usos do sabonete nas prisões, na tropa e em escolas mais selectivas!! Mesmo o azul e branco já só serve para lavar as mãos depois de mexer no motor do carro! Gel de Banho é o que está a dar e sem dúvida que um bom apelido para qualquer amante da bolhinha de espuma e da pele hidratada!! Ou será que este é primo do outro dos sabonetes de Marrocos???

quinta-feira, novembro 15, 2007

Maputo vista do terraço

Quando o calor aperta e o stress aumenta, não há nada melhor que ir até ao terraço do prédio onde trabalho e dar uma vista de olhos!!! Uns saltam outros descem de elevador!!

Camião do Lixo

Não era tarde nem era cedo, era horário de trabalho e mais um dia no batente. Estava a sair para uma reunião com um cliente quando passa por mim um camião do lixo em processo de insineração a alta velocidade!! Para quem pensa que em Portugal os carros deitam muito fumo e que fazem muita poluição, eu só posso dizer que e estivesse aí até os tubos de escape eu lambia de tão cheirosos que são!! Não é para quem pode, é para quem quer!

Chizavane

As saudades estavam-se a tornar incontroláveis, de umas férias merecidas como de ter matéria prima para dar noticias a todas as familias que durante tanto tempo estiveram privadas da sua novela preferida, " Baptista na terra do chocolate preto!". Depois de meses e meses de trabalho, stress e sabe se lá mais o quê, lá se foi para a praia! Carro novo (história com vários capitulos que vai fazer as delicias de qualquer um que se queira iniciar na arte de intrujice de vender carros), dinheiro no bolso e muita comida na eleira! Mais uma vez, para fazer uma mão cheia de quilometros demorámos uma eternidade até chegar a Chizavane. Muito bonito, casas na praia, água limpa e com ondas e sem ninguém por perto.Boa companhia e uns dias de descanso, sempre a torrar o coirato e a matar a sede com gin tónicos! Churrascada a torto e a direito e sem saber ler nem escrever lá aparece um leitãozinho (tamanho de bébe mas sabor de porco grande, duro como cornos!!!), mais uma prova que em país onde nada existe, tudo é possivel mesmo no meio do nada.
Depois de alguns gins tónicos, umas garrafinhas de vinho a acompanhar o porco-bébe e umas garrafas de whisky para ajudar a empurrar, já a noite estava a passar a dia quando um caranguejo e um sapo foram convidados para um frente a frente á beira mar plantado. Ninguém ganhou nem ninguém pedeu, mas todos ficaram felizes, uns sóbrios e outros muito bêbados!!

O merecido descanso do guerreiro correu bem, a inpiração voltou e a vontade de voltar a fazer um estágio patrocinado por alguém em viagens e fins de semana lúdicos, está de novo a rubro.
Com o passar do tempo e da idade, parece que desta vez o patrocinador vai ser a Santa Casa da Misericórdia (EuroMilhões)!!!! Para a lembrança ficam muitas saudades de todos aqueles que vêm o Baptista passar no seu CHOCO-MOBILE!!!!

sexta-feira, novembro 09, 2007

Ares do Índico - part 3

Vive-se para viajar ou viaja-se para viver? Muitas vezes é colocada esta questão principalmente quando se vive fora do país de origem. Não é fácil ficar em casa parado a olhar para o boneco quando se tem um continente inteiro para descobrir. Os pequenos episódios que acontecem durante a semana e que alimentam a fuga ao fim de semana, repetem-se vezes sem conta sem que nada seja feito para contrariar. Tinham passado uns dias desde que havia contado a um amigo recém chegado de algumas particularidades que acontecem em Moçambique, principalmente em Maputo a cidade onde vivo. É como uma moda. Numa semana desaparecem os espelhos dos carros, no mês a seguir desaparecem os piscas! Este foi o mês dos piscas para mim e para o meu carro. Imaginem a sensação de sair de casa de manhã para ir trabalhar e quando chegam ao carro reparam que os piscas desapareceram e só restam os fios eléctricos, como uma lembrança. O mais caricato disto tudo, é que para bem da saúde mental e da economia paralela, acaba-se sempre por ir comprar o material que nos pertence. Muitas vezes não é preciso ir á procura dele, porque há quem se disponibilize para nos fazer chegar em boas condições aquilo que nos pertenceu até umas horas atrás. Pequenos momentos que nos fazem sentir a diferença de onde estamos e de onde viemos. Piscas de volta no carro e mais uma lição a aprender, nunca confiar nos amigos do alheio e de que o domingo também serve para eles descansarem! Há que fazer referência á visita do Presidente da Républica de Angola, José Eduardo dos Santos a Moçambique. Várias dívidas perdoadas e promessas de um desenvolvimento rápido e sustentado. Não sei se tem a ver com a suposta chegada do verão, que está a tardar para aparecer, mas a vida cultural começa a dar uns passoa largos, para contentamento de muitas pessoas, quer moçambicanos quer estrangeiros. Todas as semanas é possível ver acontecer ciclos de cinema gratuito. Filmes italianos, filmes espanhóis, exposições de pintura e escultura, danças e outras actividades. Na sua maior parte sempre com a iniciativa de ONG´s que estão a trabalhar em Moçambique. De volta ao primeiro parágrafo, vivo para viajar! Ponta do Ouro, praia, sol, água quente e nada para fazer ou pensar. Mais um fim de semana e mais uma voltinha para um paraíso á beira mar plantado. Tentem lembrar as imagens de uma etapa do rally Lisboa-Dakar em pleno deserto africano, com muita areia, calor e sem nada nem ninguém por perto. 120 quilómetros assim e chega-se á Ponta do Ouro, só para quem tem jipe. Ao fim de quase 3 horas de muita areia, chega finalmente a hora de ir para a praia, mergulhar com golfinhos, com tubarões baleia, pescar, fazer surf ou o que quer que seja, desde que se esteja perto ou dentro de água. Peixe, marisco e muito gin tónico. Será que ainda assim há quem viva sem ser para viajar?

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 2

A distância tem destas coisas. Mais um fim de semana prolongado graças ao feriado que celebra o Acordo Geral da Paz em Moçambique, dia 4 de Outubro. Para muitos as celebrações do feriado são feitas nas cidades com discursos politicos e festejos. Mas os que festejam o feriado a 5 de Outubro, como é o meu caso, aproveitam para viajar atrás do sol e praias paradisiacas. O destino foi Chizavane, uma terra a 50 quilometros do Xai-Xai, em que uma grande parte deles são feitos no meio do mato, sinal de praia deserta e pouco movimentada. Muito calor a contrastar com as nuvens e chuvas de Maputo, muito atipicas para esta altura do ano, mas também onde será possivel prever alguma estação do ano com exactidão nos dias de hoje?? Mantimentos descarregados e muita preocupação para que nada falte nestes dias de sol, mar e muito descanso. Quando se pensa que longe das grandes capitais e centros urbanos é dificil encontrar alguns caprichos, estes dias foram mais uma prova de que isso é mentira. Num dia menos ensolarado e com alguns quilometros feitos no meio do nada conseguimos encontrar quem nos vendesse um javali, pronto a assar na brasa. Como se isso não bastasse um contentor de mercadorias muito velho e bastante deslocado das suas origens serve de mini mercado no meio de uma povoação isolada e de tudo um pouco é possivel comprar, até mesmo o remédio sagrado para a malária, o famoso gin tónico! No último dia de descanso e já com as baterias quase carregadas para mais umas semanas de trabalho, surge na praia um pescador local. Apenas lhe pedimos que nos venda todo o peixe que apanhar nessa manhã, tal era o desejo de comer peixe fresco. Ao fim de meia hora e de algumas investidas no mar voltámos para casa com mais de 10 quilos de peixe acabado de ser pescado e ainda vivo. É dificil imaginar tudo isto, mas a realidade é que isto aconteceu. E acontece muitas vezes quando se deseja ter algo que se pensa ser impossível. A vontade de sair dum lugar destes para regressar a casa e ao trabalho é muito dificil, ao mesmo tempo que se percebe que com tão pouco dinheiro se consegue ter uma qualidade de vida excelente. O tempo passou mas ainda deixou milhares de quilometros de natureza intacta e de população que nunca viu um veículo a motor ou mesmo alguém de cor diferente da deles. A estranheza é tão grande que muitas vezes as pessoas fogem ao verem que um carro se aproxima deles. Algumas vez iremos sentir isso?

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 1

“Não sejas duro”, disse o Obadias quando soube que eu ia começar a escrever uma coluna para um jornal português. Como em todos os países de língua portuguesa, as diferenças e semelhanças andam sempre junto da mesma linha e Moçambique não é excepção. Mas falar de Moçambique nos dias de hoje significa falar de Maputo e do resto do país que o envolve, já que tudo se passa na capital do país durante a semana e no resto do país que o envolve ao fim de semana. Posso dizer que a minha experiência neste imenso país ainda está um pouco aquém das expectativas, já que o raio de aventura ainda não passou dos 500 kms, tendo em conta que ainda tenho uns milhares disponiveis. Mas cada dia é uma aventura e se fazer turismo em África é uma experiência única, que tal juntar o prazer de viajar ao de trabalhar durante a semana num país tão rico e ao mesmo tempo tão pobre. Acordar com o nascer do sol ás 5 da manhã e sentir o calor das 2 da tarde ainda antes de ter tomado o pequeno almoço. Ver a cidade sufocar de pessoas, carros, tchovas (vendedores ambulantes) até se perceber que afinal não são só as grandes cidades cosmopolitas que sofrem de problemas tão comuns como trânsito, buzinas e muito stress! (não esquecer que em Moçambique se conduz á direita, ou seja á inglesa). Mas se os problemas são como em qualquer grande cidade ocidental, as alegrias ás vezes são feitas de gestos tão pequenos que é dificil de imaginar em outra parte do mundo. Ainda está presente quer na mente quer na própria cidade e seus habitantes que há pouco mais de dez anos atrás Moçambique era um, senão o mais pobre país do Mundo. As diferenças surgem a cada esquina e o instinto de sobrevivência ainda não baixou os braços, mesmo com a ajuda de tantas ONG´s. Mas nada disto era assim quando Maputo se chamava Lourenço Marques, pelo menos pelas fotografias que vi de um livro sobre a mesma cidade á mais de 20 anos atrás. Os testemunhos saudosistas de muitas pessoas de alguma idade também o comprovam e algumas reliquias que ainda ficam do tempo em que Moçambique era uma jóia em bruto. Os encantos ainda cá estão todos e só é preciso ter á disposição um carro 4*4, uma boa dose de espirito de aventura e saber aproveitar em cada quilometro de estrada, picada ou de areia as mil e uma maravilhas que este país tem á disposição. Não há nada melhor do que fugir da cidade e encontrar a poucos quilometros de distância praias desertas, animais que fazem qualquer jardim zoológico europeu corar e pessoas nos lugares mais incriveís possam imaginar. O sol a girar ao contrário, a água sempre quente e sentido de imensidão em qualquer lugar em que se pára o carro para disfrutar das paisagens a perder de vista. Mas uma coisa é certa, por muito grande que este país seja, não é fácil estar sozinho. Só quem vive, viaja e anda por Moçambique sabe como é encontrar alguém a passar numa estrada ou num caminho ou no meio do nada. Os problemas parecem desaparecer quando se começa a perceber que a verdadeira beleza deste país está para lá de tudo aquilo que os catalogos de viagens, brochuras de hotéis, jornais e telejornais mostram. O cheiro, os sabores e a intensidade deste país ainda estão muito longe de serem pobres e ninguém quer deixar isso ao acaso
in: Semanário Económico, CASUAL