sexta-feira, maio 23, 2008

Ares do Índico - part 17


Dia Mundial do Trabalhador

Dia Mundial do Trabalhador. Ninguém trabalha. Este ano para ajudar à festa, a sexta-feira faz de ponte para um fim-de-semana prolongado e umas merecidas mini ferias para todos os trabalhadores do mundo, ou pelo menos assim deveria acontecer na teoria! Moçambique não é excepção. Tudo começa como um dia de festa. A população sai para as ruas, cada empresa agrupa os seus trabalhadores desde o director geral ou equivalente até ao empregado no fim da linha, e tornam a cidade colorida durante um dia. Como se de uma espécie de jogos olímpicos de empresas se tratasse, em que nenhuma quer ficar em ultimo! Chapéus, t-shirts, bandeirolas e cartazes, muitos cartazes, grandes e pequenos. Neste dia não existem patrões nem empregados mas sim trabalhadores. Todos juntos saem pelas ruas para festejar. Celebrar. Comemorar. Eu para ser sincero vou de férias, ou pelo menos pedir o máximo de ajuda possível a S. Pedro para dar uns dias de sol e bom tempo para poder aproveitar a praia e as mini ferias. Faço parte da classe operaria à relativamente pouco tempo, mas nunca deixei de comemorar o dia do trabalhador com umas ferias, sempre que possível. Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Mas quando é conhaque, é conhaque à seria! Feriado significa descanso e dolce fare niente. Mas são mais do que muitos, são a maioria aqueles que saem de casa e se juntam por cores, emblemas, logótipos e hinos para festejar durante uma longa marcha o orgulho que têm em vestir a camisola, trabalhar por ela e para ela. Aumentar as hipóteses de poder fazer a diferença. Aprender todos os dias um pouco mais e ensinar algo de novo todos aqueles que vêm de longe, para desafiar tudo e todos e provar que temos muito a aprender uns com os outros, mesmo quando isso parece ser impossível e inaceitável. Apesar de passar por todas estas experiências que tornam o facto de trabalhar em Moçambique um desafio bastante gratificante e enriquecedor, o meu Dia Mundial do Trabalhador vai ser igual e passado da mesmo forma independentemente do lugar do mundo onde estivesse, na praia deitado, na praia estendido. É assim o meu feriado e recomendo vivamente a quem tem possibilidades para isso de o fazer desta forma e se possível em Moçambique, que nesta altura continua ainda com bom tempo e muitas razões para as tão esperadas mini férias.


in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 16

Relíquias de Lourenço Marques

Pérolas do passado, jóias do presente. Em cada rua, em cada esquina, em todas as cidades de Moçambique encontramos uma obra de arte esquecida e ignorada por quase todos. Quase todos! Arquitectos, engenheiros, pintores, músicos e muitos mais. Todos artistas e todos deixaram a sua marca. Nem os anos nem a destruição da guerra conseguiram anular as imensas preciosidades que foram deixadas pelos nossos artistas de outras épocas. Depois de tantos anos e de uma evolução desenfreada, ainda é possível dizer que a herança deixada em Lourenço Marques torna Maputo numa cidade de encantos. Os portugueses agora são tugas. Os senhores agora são bosses! Aos poucos e poucos a história repete-se e tudo volta ao que era, ao que foi. Quem partiu levou na lembrança tudo aquilo que jamais voltou a encontrar, e quem chega procura pelo que possa ter ficado de quem já partiu. Não existe ninguém que não tenha uma boa história para contar, uma grande aventura para relembrar os bons velhos tempos, as relíquias de Lourenço Marques, as jóias de Moçambique. Mas agora é a nossa vez. Não de relembrar a historia mas sim de começar uma de novo, do principio. Criar aquilo tudo que será lembrado daqui a muitos anos, por todos aqueles que ainda estão a ser projectados para um dia herdarem o que é nosso, alguns já vêem a caminho! Do Maputo ao Rovuma perdem-se de vista as memórias e as lembranças dos tempos incríveis vividos ao segundo e ao sabor do momento. Agora desespera-se para poder acompanhar o passo do futuro, desenvolver ao máximo tudo o possível e imaginário na esperança de poder alcançar o passado, ou pelo menos conseguir fazer o suficiente para quando a altura do descanso merecido chegar, conseguir saborear aquilo tudo que há muitos anos foi um paraíso esquecido. Lá. Onde o sol se põe ao contrário e onde as horas não mudam, nem no verão nem no inverno. Lourenço Marques foi há muito tempo. Maputo tenta esquecer e acompanhar a evolução. Quem vem quer as pérolas de Lourenço Marques, mas paga pelas jóias de Maputo na esperança de conseguir fazer com que o tempo ande para trás, para as lembranças do passado. As casas lindas de morrer, sumptuosas ao ponto de não ser possível imaginar como alguém pôde ter ousadia para tanto. Monumentos que mais parecem deslocados de outras partes do mundo e plantados em Moçambique com um precisão de artista. Memórias que não acabam nunca e que continuam a fazer com que este país se torne numa caixa de surpresas para quem aqui chega, pela primeira vez ou pela primeira vez depois das outras vezes todas.


in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 15

Quem manda aqui?

Durante as ultimas semanas que as discussoes tem sido acesas com alguns colegas de trabalho sobre o verdadeiro desenvolvimento de Moçambique e a imagem que o mundo tem deste país africano em franco desenvolvimento. As visitas oficiais de vários chefes de estado vão sucedendo ao longo do tempo e as promessas da praxe vão sendo cada vez mais e os elogios bastante encorejadores. Mas ainda se faz muita protecção a tudo o que vem de fora e muitas vezes, quem sofre na pele são aqueles que por razões profissionais, filosofias de vida, destinos do acaso ou mesmo por escolha própria em regressar para junto das raizes chegam a Moçambique à espera de encontrar uma sociedade aberta ao que é novo como forma de aprender aquiloque perdeu nos ultimos anos de guerra e sofrimento. Todos os estrangeiros que chegam confrontam-se com inumeros obstaculos para conseguir trabalhar, viver e até investir em Moçambique. O poder é cada vez mais de todos os aqueles que possuem dinheiro em deterimento dos estudos ou experiencia de trabalho, se assim se pode chamar! A evolução e a globalização da economia assim ditou as regras, fazendo com que se veja uma caça ao tesouro em tudo o que se pode imaginar. É justo. Mas outros fenomenos aconteçem em paralelo a esta evolução. É engraçado como muitas pessoas tambem olham para estes paises mais carentes de evolução e de investimento e até mesmo de educação qualificada em postos estratégicos como uma forma se agarrarem o poder de qualquer coisa. Com uma experiencia de trabalho ainda na fase crescente, mas já com algumas empresas de renome no curriculum, foi me possivel sentir como as pessoas vêm alguem que vem de fora para trabalhar, desenvolver, liderar, expandir, despedir, ensinar, aprender, ajudar e acima de tudo fazer pela vida em termos economicos. Uns tem sucesso e conseguem atingir estes objectivos todos e muitos mais dando a alegria e satisfação a todos aqueles com quem trabalham, e por outro lado temos os chefes, patrões ou como aqui são carinhosamente chamados, os bosses (patrão em inglês). Para alguns é como peixe fora de água que não consegue de maneira nenhuma atigir um objectivo que nunca foi possivel em outro lado e que aqui parece ser uma meta a atingir, mas muitas vezes, a maioria delas sem sucesso nenhum e com resultados hilariantes a todos os niveis, incluindo os laborais. Outros, já com alguma bagagem e com pretensões bem maiores vão conseguindo ir ganhando um lugar de destaque como lideres de qualquer coisa que ninguem vê, a não ser a empregada lá de casa ou o porteiro da empresa! Mas o verdadeiro patrão é aquele que faz juz ao verdadeiro empresário de import/export, o Quim Fintas que consegue dar a volta a tudo e todos e por fim acaba enrolado nos seus proprios esquemas. Não são só os estrangeiros a seguir este modo de vida, mas são eles que protagonizam as imagens mais caricatas e muitas vezes imortalizadas pelos risos e gargalhadas dos seus proprios “empregados”. Se calhar tem tudo a ver com a forma como o sol gira e pelo aquecimento da água do mar, mas a verdade é que cada vez mais se encontram verdadeiras aves raras de todas as idades, sexos e nacionalidades. Quem não fica a ganhar são todos os outros que andam em Moçambique a lutar pela vida e que aos poucos e poucos se vêm comparados a pequenas excepções que mancham o bom trabalho e excelentes desempenhos em muitas áreas, passando despercebidos aos olhos de todos mas que levam por tabela com todos os preconceitos e julgamentos de opiniões. Mas se não fossem estes pequenos episódios cheios de personagens brilhantes, que graça teria a vida fora de Portugal ou dos paises de origem de todos os outros que servem de figurantes nesta série da vida real? Os tempos mudam e as vontades tambem e chefe que é chefe não deixa os seus créditos em mãos alheias, mesmo quando os tempos são dificeis!

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 14

Visita Oficial

Durante as férias da Páscoa muitos portugueses aproveitam para umas mini férias, dentro ou fora de Portugal, algumas vezes conciliando até o trabalho com as férias para fazer rentabilizar o tempo e o dinheiro! Em Moçambique, todos os portugueses que aqui trabalham e residem, tiveram a oportunidade de conhecer e conversar com o Presidente da Republica de Portugal, Dr. Aníbal Cavaco Silva. Depois de umas merecidas férias pelas praias moçambicanas, a visita de estado decorreu durante três dias e sempre com várias memórias do passado, da altura em que o nosso Presidente da Republica viveu em Moçambique. A casa onde viveu durante dois anos, a escola onde a Primeira-dama deu aulas e outras curiosidades. Foi muito bom viver durante três dias mais perto de todos aqueles que representam o nosso país e que levam a bandeira de Portugal além fronteiras.
A comitiva incluía vários investidores e empresários portugueses, alguns com negócios em Moçambique e outros com muita vontade de investir neste belo pais africano que cada vez apresenta mais oportunidades de negócio de vido ao seu crescimento sustentado e com uma politica interna cada vez mais estável, assim como a própria segurança interna que se tem relevado mais eficaz. Vários acontecimentos tiveram lugar durante estes três de visita oficial. Seminários sobre a língua portuguesa e comunicação com algumas figuras publicas da comunicação, jornalismo e governo, como ex. ministros da cultura e da educação. Um belíssimo concerto de Maria João e Mário Laginha, com um auditório esgotadíssimo e a rebentar pelas costuras. Várias empresas aproveitaram para reunir e apresentar produtos, serviços, soluções e outros negócios a todos os potenciais investidores interessados em Moçambique. E claro a recepção oficial ao Presidente da Republica na Escola Portuguesa de Moçambique, onde todos os portugueses em território moçambicano forma convidados para estar com o Dr. Aníbal Cavaco Silva. Foi muito bom para todos os portugueses que costumam celebrar a Páscoa com a família ou mesmo aproveitar para uns dias de descanso, sentir em Moçambique que Portugal esteve tão perto de todos nós e ajudou a tornar esta altura do ano bem mais agradável e na despedida sempre com uma lágrima no canto do olho! Penso que das últimas vezes que este saudosismo aconteceu em Moçambique, foi mesmo em 2006 durante a vista da equipa do Benfica para alguns jogos de preparação e exibição junto da grande massa associativa que existe neste país africano. É possível encontrar por alguns restaurantes e cafés mais típicos e turísticos da antiga Lourenço Marques, camisolas e posters assinados por jogadores, treinadores e presidente do clube. Como qualquer benfiquista é um grande orgulho poder ver a grandeza do clube além fronteiras e a união que provoca entre a comunidade portuguesa, só é pena os resultados não corresponderem á dedicação dos adeptos, mas isso fica para outras estórias. A semana ficou ainda marcada pela chegada da Primavera a Portugal e do Outono a Moçambique. A mudança da hora que encurta para apenas 1 hora de diferença que facilita tanto no trabalho como nas horas de lazer, em que já não é preciso ficar até de madrugada para ver o telejornal ou os jogos de futebol! Em Moçambique não se brinca com as horas nem diferenças horárias, depois de algumas conversas e discussões, fiquei a saber que a opinião sobre estes tema não é nada boa por parte da população mais antiga que vê neste acto um despeito pelo destino e pelas crenças mais nobres. Mexer com o tempo como eles dizem, nem vale a pena falar, muito menos imaginar!


in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 14

Migração ou não?
Que todos os jovens ou uma grande parte deles olham cada vez mais para o estrangeiro como uma oportunidade de trabalho e de uma vida melhor, já se sabia há algum tempo. A cada dia que passa, é impressionante ver a quantidade de pessoas com menos de 30 anos que chegam a Moçambique, através de Maputo à procura de oportunidades novas e diferentes. De todas as nacionalidades e cantos do globo vão chegando de carro, avião ou de boleia diversas pessoas que desistiram e abandonaram tudo na sua terra natal para encontrar em África desafios e realizações pessoais. Técnicos de acção social encontram aqui uma diversidade gigante de oportunidades, muitas delas fora dos centros urbanos onde tudo falta e ainda nada chegou, resultado de um desenvolvimento bastante mal sustentado. Economistas e gestores encontram em diversas empresas e organizações não governamentais trabalho e na maioria das vezes uma oportunidade única de poder trabalhar e ao mesmo tempo transmitir todos os ensinamentos adquiridos. Advogados exercem aqui em Moçambique as leis praticamente comuns aos dois países, Portugal e Moçambique. Designers, realizadores, publicitários e afins dão uma ajuda preciosa no desenvolvimento dos negócios e da própria imagem do país. É mesmo impossível não encontrar um estrangeiro em quase todas as grandes empresas de referência em Moçambique, assim como em certos negócios mais especializados. Apesar de África possuir características absolutamente únicas, o aumento do desejo em trabalhar, viver e experimentar um tipo de vida que não é fácil e muitas vezes angustiante ao ponto de desistir e voltar ao ponto de partida. Não é para todos ou para qualquer um. É preciso ter um grande jogo de cintura, saber contornar as dificuldades e enfrentar com um sorriso na boca os desafios do dia a dia. Quem não gosta de viver praticamente o ano inteiro com sol e calor? Trabalhar a cinco ou dez minutos de distância de casa, onde é possível ir almoçar todos os dias. Deixar os filhos em casa ou na escola e passar com eles grande parte dos dias! Viajar quase todos os fins-de-semana para praias desertas e paradisíacas a um custo relativamente baixo. Em época de Páscoa em Portugal, ficam aqui alguns aperitivos que podem ajudar algumas mentes indecisas a experimentar no estrangeiro aquilo que não se consegue encontrar mais perto de casa! Infelizmente em Moçambique não existe o feriado da Páscoa e os respectivos ovos, e o coelhinho da Páscoa foi com o Pai Natal ao circo e ainda não voltou! A família começa a ser substituída nestas alturas pelos amigos e colegas de trabalho que fazem com que os festejos sejam diferentes e mais descontraídos. Num país onde o significado da família é bastante grande e as próprias famílias são ainda maiores, quem está acostumado a viver estes feriados especiais e tradicionais, aprende a ajustar a roupa ao feriado e a praia como pano de fundo para qualquer celebração. Natal, Ano Novo, Carnaval, Páscoa, São Martinho e por aí em diante, é sempre na praia! Resumindo e concluindo, para quem pensava que nas ex-colónias apenas se encontrava a velha guarda portuguesa engana-se. Grandes novos talentos andam à solta em África, trabalhando, ensinando e formando na medida do possível um povo sedento de informação e de novas oportunidades de aprendizagem com aqueles que têm uma perspectiva do mundo com outros olhos. Se ao menos o preço das viagens fosse mais barato, ainda pensava ir a Portugal matar saudades de umas amêndoas e de uns ovos da Páscoa!

in: Semanário Económico, CASUAL

Bilene - Abril 2008

Se tivesse em Portugal era como ir passar o fim de semana à Lago de Albufeira, mas em Moçambique chama-se Bilene. Tem praia e tem uma lagoa. A praia é para os ricos que têm barco e a lagoa é para os outros que nadam. É preciso muita imaginação para conseguir passar o tempo num lugar onde a água mexe menos que um coxo, sem querer ofender os coxos que não têm nada a ver com isto, apenas como comparação.
Para variar o tempo estava muito bom, ou não se chamasse este país de Moçambique, onde apesar de todas as maravilhas, cada vez mais dificeis de encontrar, do tempo nunca nos podemos queixar. Esteja tudo bem ou tudo mal, podem andar todos à chapada no meio das ruas por causa dos preços dos transportes ou por rebentarem armazéns de armas, mas o tempo está sempre uma maravilha. Até para os policias isto é maravilhoso, é raro estar mau tempo e chover, só de noite, por isso nunca precisam de suspender as actividades de ficalização mais ou menos "refrescantes". (refresco é o nome dado por eles ao suborno, raramente é oferecido pelos cidadãos e na grande maioria dos casos é pedido pelos policias!!)
Voltando ao que interessa, o fim de semana foi muito bom, muito sol e muito descanso, a comapnhia bastante agradável e mais uma voltinha do Tomás pelas terras suecas!!! Ainda não nasceu mas já se farta de passear. Aqui já estava com - 4 meses antes de pôr a cabeça de fora!

Ares do Índico - part 13

Macaneta

Fim-de-semana. Muito calor. Praia. Aventura. Em Moçambique é assim que começa a descrição de mais um fim-de-semana como muitos outros durante o ano. Apesar do verão estar quase a acabar, pelo menos segundo o calendário das estações do ano, o calor não deixa de aumentar e de se fazer sentir durante o dia e mesmo durante a noite. Nada melhor do que aproveitar os dois dias de descanso por semana para ir até à praia carregar as baterias e viver algumas aventuras que quebram as rotinas do dia a dia. Em Maputo a praia mais próxima é a da Costa do Sol, situada na marginal da cidade e que foi famosa à muitos anos atrás quando ainda estava virgem e imaculada! Agora, é preciso fazer alguns quilómetros e sair da cidade de Maputo para chegar até à Macaneta, uma praia que faz lembrar um pouco as praias da Costa Alentejana de Portugal, mas com muitas diferenças pelo caminho! Como fica situada numa ilha, é preciso atravessar o rio através de um batelão, barco quase semelhante a um ferry-boat mas apenas de nome. Leva 6 carros de cada vez e as pessoas que couberem. Uma viagem curta, cerca de 10 a 15 minutos consoante a força da corrente e muitos nenúfares a deslizar de um lado ao outro da margem consoante as dinâmicas das marés. Depois de atravessada a margem, alguns quilómetros de picada através de mato e dunas até chegar a uma praia com milhares de metros de extensão, sem alma viva e a mais pura sensação de ter chegado a um pequeno paraíso no meio da selva urbana. Água incrivelmente quente e apenas o mito dos tubarões fazem com que nunca se deixe de ter pelo menos um pé na areia para ajudar a fugir do peixinho! Não se ouve o senhor dos gelados da Olá nem das deliciosas bolas de berlim, mas por outro lado, consegue-se comprar ao final da tarde o peixe acabado de ser pescado e o marisco ainda vivo. Pequenas diferenças, gostos incomparáveis mas uma sensação única de estar sempre de costas para o sol. Como é banhada pelo oceano Indico, a costa moçambicana causa muita estranheza a todos aqueles que estão habituados a ver o sol descer em direcção ao mar, através da linha do horizonte arrastando atrás de si as cores intensas do verão. Muitas vezes se sente que o tempo pára nas praias moçambicanas, deixando uma sensação de eternidade em apenas algumas horas na praia. Depois de muitos mergulhos e muito sol é hora de encher a geleira de marisco e regressar a casa. Para que a aventura seja completa, é preciso ainda esperar que o famoso batelão atravesse para o outro lado da margem os mais de 20 carros que se encontram à nossa frente, que durante o tempo de espera vão fugindo à subida da maré que vai galgando o terreno e inundando as estradas. A cada nova viagem, o capitão arranja uma solução para que os carros possam entrar no barco e assim chegarem ao outro lado. O sol põe-se e o calor nem por isso arreda pé. As crianças aproveitam para vender castanha de caju a todos os banhistas que vão esperando pacientemente dentro dos carros, ao mesmo tempo que os artistas locais desfilam com as suas peças em madeira de pau-preto e sândalo, fazendo as delicias de todas as senhoras que aí se encontram. Domingo é sinónimo de festa, já que na segunda-feira a rotina regressa e é preciso esperar mais cinco dias para que tudo se repita desta forma. África tem encantos sem explicação possível e de uma intensidade brutal. A força da natureza num alto estado de pureza, muitas vezes desconcertante e até assustador. Por vezes não é fácil encarar a dura realidade de alguns países africanos em que o desenvolvimento ainda está longe e que ao mesmo tempo contrapõe essa ausência com maravilhas naturais. Tudo se compara e ao mesmo tempo nada é comparável. É estranho, mas depois disto tudo, a semana de trabalho vai ser bem mais fácil de suportar e até mesmo os 33 graus centígrados que se fazem sentir diariamente nesta altura do ano, já são um pormenor como outro qualquer.

in: Semanário Económico, CASUAL

quinta-feira, março 13, 2008

Vilankulos


Aqui foi a primeira paragem depois de mais de 300 kms desde Maputo em direcção a Vilankulos onde foi festejada a entrada no ano de 2008!!! Eu sei que devia ter escrito e colocado as fotos à mais tempo, mas são assim as coisas da vida!! Paragem habitual a caminho do norte do país, Quissico, uma lagoa bonita e muito agradável à vista!!!! Paragem para xi-xis, refrescos, rissois e chamussas!! 1200 kms em Moçambique de uma vez só é dose, acreditem.
Vilankulos pode ser descrito numa palavra, PRAIA. Não existe mais nada além de praias, praias e mais praias desertas nas ilhas que ficam em frente. Bazaruto e mais umas milhentas que eu não me lembro o nome, e mesmo que escrevesse voçes acreditavam em mim!!!! Para não variar, praias desertas, água quente e o homem dos gelados da OLÁ que nunca está onde deve!

Fora do centro de Vilankulos existem dezenas de lodges perdidos no meio do nada, em que só é possível lá chegar através de carros 4*4 e mesmo assim é uma sorte. Têm condições inacreditaveis e praias privadas excelentes. De vez em quando lá se vê algum local a passar com peixe ou marisco fresco para vender, e até mesmo corais e conchas gigantes!!

Sempre à descoberta de novas praias e das mais bonitas, uma semana em Vilankulos não chega nem para ver metade das preciosidades que esta terra têm para oferecer. Depois de ter sido atacada por um ciclone em Fevereiro de 2007, muitas infra estruturas estão agora a ser reconstruidas e reabilitadas.A primeira impressão que se têm quando se chega a Vilankulos é de estar numa cidade completamente destruida e suja e desorganizada. Só depois de se saber o porquê é possivel ignorar os promenores e apreciar as maravilhas deste lugar. Como verdadeiro Banhista e Doutorado em Vacances, um passeio pelas ilhas para sentir um pouco de adrenalina. O piloto deu lhe gás e lá fomos nós à vela em vez de motor, o que apenas deixou algumas marcas no corpinho, já que apanhámos um escaldão de tal maneira que as lagostas até se riam de nós. Devagar, devagarinho lá chegámos, sempre com as manias das poupanças e que se lixe o turista! Quando for rico vou ter um barco grande com dois motores!Depois de várias horas dentro de água a ver os peixinhos amigos do Nemo, e aproveitar para conhecer a ilha, lá chegou o merecido almoço incluido na excursão. Marisco, peixe grelhado, salada e fruta da época, tudo cozinhado no barco e servido debaixo das palmeiras. Não havia docinho, mas a malta improvisou!!!Pôr do sol no meio das barracas, palavras para quê? Quem tem uma vista destas não precisa de se queixar da vida!!!!Primeiro banho do ano com uma sereia!!!!!

terça-feira, março 11, 2008

O/A Baptistinha

Ainda não chegou mas está quase a chegar, por enquanto ainda está guardado dentro da caixa para não se estragar!!! Daqui a um mês já se deve saber se sai ao pai ou à mãe. Por enquanto está tudo fino e tranquilo.

segunda-feira, março 10, 2008

Chongoene

Mais uma ficha e mais uma voltinha. A criança não paga mas também nao brinca!! A paisagem pode parecer sempre a mesma mas garanto que não é.
Apesar das praias estarem sempre vazias não quer dizer que são de má qualidade ou não têm bandeira azul.

O probelma é que há tanta praia nesta terra que só quem não tem uma licenciatura em banhismo e veraneio é que acaba sempre em praias com muitas pessoas!! Chongoene fica a 200 km de Maputo, no distrito do Xai-Xai e apresenta-nos este cenário de lua de mel e muito descanso.

Quem trabalha arduamente a semana toda merece uns dias de praia ao fim de semana. Quartinho simpático e sem luxos, vista para o mar e é tudo o que se quer!
Nota curiosa, no dia em que chegámos ao Chongoene, mesmo em frente ao lodge onde ficámos estavam a queimar uma baleia que tinha aparecido morta na praia no dia antes, um espetáculo estranho mas que representa como as leis da vida e da natureza funcionam. Muita praia, muito descanso.

À saída da praia do Chongoene fica este bairro local, bem à semelhança de uma favela, mas com uma paisagem completamente diferente. Muito nice!!

Xiquilene

Maputo tem vários mercados informais espalhados por toda a cidade. Cada um deles com caracteristicas únicas e com produtos especificos. Em todos é possível comprar produtos alimentares e bens de primeira necessidade, mas depois cada um deles tem alguns artigos exclusivos!!! Este é o mercado do Xiquilene, via de passagem para entrar e sair de Maputo em direcção a norte. As fotos apenas mostram uma pequena parte do mercado visto da estrada e não o seu interior, que posso garantir ser de uma organização e arrumação de fazer inveja ao Colombo ou Amoreiras, só não dispõe de zonas de restauração e de pagamento com cartão de crédito!! Ainda não chegou, mas há-de chegar!!! Muitos produtos locais e outros importados, cerveja nacional Laurentina e 2M, gin Tentação(garrafas de plastico com tampa encarnada) não aconselho a provar, pelo menos aqueles que não costumam ir aos treinos!! Decoração de interiores e outros regalos!!!

Ares do Índico - part 12

Lei da oferta e da procura?

Alguns assuntos são bastante delicados de abordar e este é sem sombra de dúvidas um deles. O turismo sexual. Não vale a pena virar a página ou fechar os olhos para não perceber e ver realmente a verdade nua e crua. Como todos sabem, não é nem nunca será um problema exclusivo de África, mas sim de todos os países onde a pobreza e as diferenças sociais são abismais, onde as paisagens paradisíacas são uma constante, e acima de tudo onde as leis assim o permitem. Em muitos países é um cartão de visita para umas férias bastante melhores que o habitual ou uma viagem de negócios menos aborrecida e enfadonha. Só não vê quem não quer e quem não está cá, como é óbvio. São várias as histórias que se vão contanto por todas as partes do mundo sobre as famílias paralelas dos trabalhadores expatriados, que na solidão e na saudade da distância encontram nas inocentes mas experientes africanas a companhia ideal para colmatar essas carências. As viagens de negócios que são adocicadas com os prazeres da carne, a troco de nada. Os desastres profissionais em África e neste caso em Moçambique são frequentes. É fácil ouvir e saber de histórias de pessoas que vêem nos países da África sub sahariana uma oportunidade de enriquecimento rápida e ainda de grande oferta sexual. Ao fim de alguns dias ou semanas, são muitos aqueles que começam a deixar para trás as responsabilidades laborais e extra laborais para se dedicarem a tento inteiro a uma causa perdida e que sem eles saberem os vai levar à desgraça. Para quem vê isto tudo acontecer pelo lado de fora, não há nada a fazer que não seja um simples cruzar de braços e abanar de cabeça. Toda a informação está vivamente presente. Todos sabem onde são os lugares e locais onde a oferta vai ao encontro da procura e vice-versa. Não obstante das doenças mortais associadas e espalhadas por todas as esquinas, as mentiras e esquemas, e todo um jogo de sedução básico mas muito particular, não há quem resista, principalmente quando a predisposição existe e com muita vontade. Ao contrário do Brasil, onde já vivi durante muito tempo com este mesmo problema lado a lado, em Moçambique é muito diferente. Não só pela cor, porque aqui qualquer cor de pele que não seja negra é sinónimo de dinheiro e abundância do que quer que seja, mesmo que a aparência seja a pior possível, os centros urbanos são demasiado pequenos para quem está habituado a outras capitais de países mais desenvolvidos e não é com surpresa que ao fim de dois ou três dias em Maputo se saiba quem chegou, onde está a viver, com quem trabalha e por onde anda. Não é ficção é mesmo realidade. A oferta anda por todo o lado, mesmo que não se queira nem se procure, o conceito é tão forte e tão apelativo que o pudor está cada vez mais esquecido e dá lugar muitas vezes ao aberrante. Homens feitos, provavelmente pais de outros homens já feitos, passam a imagem de virilidade e opulência sexual para alegria das jovens, muitas delas sem ainda terem atingido a maioridade, que podem assim desfrutar de tudo aquilo que nunca serão capazes de alcançar. Os restaurantes, as discotecas, as compras, as lojas, os hotéis, o que quer que seja é bem-vindo. É a realidade. Os troféus exibem-se de parte a parte. Eles com os seus mini haréns de curta duração e elas com uma subida exponencial na pirâmide do salve-se quem puder. Não há nada a fazer, pois a oferta é igual à procura. Ambos sabem onde está e como lá chegar, o que fazer para a conseguir e as desculpas para deixar tudo para trás. Declarações de amor eterno à primeira vista e de fidelidade para o resto da vida, com a promessa de deixar para trás um passado triste e real. E agora, de quem é a culpa?

in: Semanário Económico, CASUAL

sexta-feira, março 07, 2008

Ares do Índico - part 11

Sobe e desce.

Sobe e desce. Depois de um fim de semana prolongado e cheio de festa em todo o Maputo e arredores, a semana de trabalho propriamente dita começou de uma maneira que mais valia a pena nem ter começado. A revolta e o desagrado pelas políticas adpotadas pelo governo moçambicano deixaram marcas em todos aqueles que tiveram a infelicidade de se cruzar ou fazer cruzar com a fúria da população em protesto. Não quero de forma alguma critícar o facto de existirem manifestações e demonstrações populares de revolta onde o povo demonstra a sua preocupação. Mas nem todos são culpados e muito menos têm que pagar o preço errado por não haver controle nem bom senso por parte de muitos dos supostos manifestantes. Há muito tempo que os combustíveis e o preço do petróleo dominas as conversas e preocupações económicas de pessoas, empresas, famílias e nações. Na última semana, Maputo assistiu à revolta popular contra uma das muitas consequências do aumento desenfreado do petróleo, o aumento do perço dos bilhetes dos chapas, vulgo transportes semi-colectivos. Como meio de transporte fundamental em Moçambique, foram muitas as pessoas a verem esta medida acabar com as poucas poupanças que poderiam vir a arrecadar no final do mês. Sobe. Ultimamente tudo sobe e nada desce e assim podemos ver o resultado. O país parou, o povo saiu à rua mostrando o seu desagrado e protesto de todas as formas possíveis e ao seu alcançe. Pneus queimados, estradas cortadas, lojas vandalizadas e pilhadas, carros destruídos à pedrada e muita confusão e insegurançanas ruas. O pânico e o medo generalizou-se pois nada previa que um protesto pudesse tomar tais proporções. Mais uma vez aqueles que tomam as decisões que influencíam as vidas de uma população, passam ao lado de todos os problemas deixando ainda o aviso que as consequências da revolta são da inteira responsabilidade dos amigos do alheio. Desce. Toda a razão é perdida por parte daqueles que em momentos de desespero e de revolta deixam o bom senso e a racionalidade de lado e não olham a meios para atingir os seus fins, é claro, com muitos oportunistas à mistura que se aproveitam da confusão para aumentar ainda mais os probelmas e a insegurança. Não se chegou a temer pela vida pois mais ou menos informadas as pessoas conseguiam arranjar uma forma de fugir á revolta que se espalhou por vários pontos da cidade. Os bens materiais mais ou menos valiosos dependiam de um jogo de sorte para saber até quando poderiam sobreviver intactos sem sofrer com os amigos do alheio que se juntaram e aproveitaram da confusão. Sobe e desce. Sobem os preços de tudo e mais alguma coisa e desce a um ritmo vertiginoso a calma e a razão nas alturas de desespero e de instabilidade económica e financeira. Não foi a primeira nem vai concerteza ser a última vez que isto aconteçe, mas para ínicio de ano e numa altura em que tudo e todos regressam ao trabalho depois de um período longo de férias, o futuro não se mostra muito risonho. E não esquecer que já na próxima semana vai aumentar o preço do trigo, bem essencial para a produção de pão, o alimento essencial na dieta do povo moçambicano. E agora o que se seguirá? Que mais poderá acontecer para que uma revolta generalizada e com alguns detalhes de estratégia bem defenidos saiam à rua e deixem tudo e todos de boca aberta ao mesmo tempo que impotentes e sem ninguém a quem recorrer?

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 10

Gwaza Muthini

Estamos no pico do verão, calor para dar e vender! Milhares de pessoas nas ruas aproveitando todos os instantes para fazer a festa, alguns chegam de chapa ou em machibombos, outros de carro e alguns de avião, vindos dos mais variados pontos do mundo. Muita cerveja, muita mesmo. Ingredientes necessários que garantem uma receita de sucesso de Carnaval. Para os mais desatentos esta descrição podeira ser sem tirar nem pôr uma vírgula de mais um ano de Carnaval no Brasil, mas não é. Apesar de já ter vivido o Carnaval do Rio de Janeiro e sentido na pele todas as emoções e sensações de um Carnaval único no mundo e sem comparações possíveis. É impossível falar desta época do ano independentemente do lugar do mundo onde se esteja sem fazer qualquer tipo de referência ao Carnaval sem ter como termo de comparação o Carnaval brasileiro. Mas em Moçambique a festa também se faz, de maneira diferente mas com objectivos semelhantes, divertimento puro e duro e muita animação. Vive-se o feriado dedicado à memória de todos os Heróis Moçambicanos. Não se vêem máscaras nem mascarados nas ruas, nem mesmo as eternas serpentinas e confétis. A festa é feita de outra forma e com uma intensidade diferente. O ritmo do samba é substituido pelos sons quentes e puramente africanos da Marrabenta, que tomam conta da cidade durante estes três dias de um fim de semana prolongado. Por aqui e ali vão sendo feitas festas e concertos, mais ou menos genuínas mas sempre com muita participação de todos os locais assim como por parte dos muitos estrangeiros que aproveitam esta altura do ano para gozar alguns dias de descanso longe de tudo e todos a quem estão ligados o resto do ano. Saborear o marisco e o gin tónico no continente africano tem de sombra de dúvidas um gosto especial, além de um leve peso na carteira! A poucos quilómetros de Maputo, no distríto de Marracuene é celebrada uma festa única e singular. O Gwaza Muthini é celebrado todos os anos por esta altura como uma cerimónia de apelo à paz e à harmonia e acima de tudo à fartura alimentícia. Depois de muitos anos de celebração, este ano teve como ponto alto da festa a oferta á população de um hipopótamo. Caçado nas redondezas de Marracuene o animal é depois repartido pela população não só a local mas como toda aquela que aproveita para se deslocar ao local para ver e viver este momento singular do povo moçambicano. Os concertos de música Marrabenta ditam o mote e o canho é a bebida oficial e tipicamente moçambicana fabricada apartir de cana de açúcar que não pode ser vendida mas sim oferecida gratuitamente por todas as pessoas que participam no Gwaza Muthini. Durante um dia inteiro todos são benvidos a participar e a comemorar um ritual moçambicano e com raízes que remontam os primórdios desta cultura. A esperança que é depositada durante a cerimónia ultrapassa a imaginação de qualquer um de nós e os resultados são esperados com muita ansiedade e alegria. Não é todos os dias que se têm a oportunidade de beber canho, nem de ouvir Marrabenta, mes especialmente de comer carne de hipopótamo! É o Gwaza Muthini, para os outros é o Carnaval!

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 9

Verão no Maputo

O sol brilha e o calor aumenta a um ritmo desalmado. A cerveja refresca e o mar ali ao lado, sem qualquer movimento e cada vez mais se assemelha a uma tijela de sopa de tão quente! O verão está no seu pico e as férias começas a ver a luz no fundo do túnel. Todas as oportunidades são boas para uma festa, para um churrasco, para uma ida à piscina ou à praia, para um passeio nas cascatas da Namaacha, para um mergulho na barragem dos Pequenos Libombos, para aproveitar o verão até à última. Durante todo o ano, grande parte da população moçambicana trabalha arduamente para conseguir durante os meses de Dezembro e Janeiro tirar umas merecidas férias e aproveitar a época das festas para se juntar à família e amigos. É impressionante o poder da família para o povo moçambicano. Uma vez em conversa com o meu amigo Toni, moçambicano de gema, nascido na província de Nampula e criado em Maputo, disse-me que para qualquer família o seu maior tesouro são os filhos e por isso estava explicado o mistério das famílias numerosas existentes em todo o país. Esse facto não só se deve só à falta de métodos de prevenção como também de informação adequada, mas sim a um sentimento de família muito forte e quanto mais numerosa for, melhor. Daí que é perfeitamente natural ter várias famílias a partilhas a mesma casa, desde avós, filhos, netos, genros, sogros e sogras. O que interessa é que sejam muitos e felizes, o resto vai se resolvendo e arranjando à medida que o tempo passa. É impossível não ficar fascinado e com vontade de abraçar aqueles milhares de crianças que se vêm por todo o país, nos lugares mais inóspitos e singulares. Sempre de sorriso na boca e de braços abertos, como se o verão durasse o ano inteiro e as férias fossem a sua ocupação a tempo inteiro. Sempre longe de casa mas perto do olhar atento dos irmãos mais velhos, estas crianças espalham a magia da sua inoçência. Assim sendo, qualquer que seja o destino da nossa viagem por Moçambique, há que ter sempre em conta estas maravilhosas jóias em bruto assim como todas as paisagens que deixam ficar qualquer um de boca aberta e pensar se é mesmo real ou alguma alucinação. Não há nada melhor que aproveitar o bom tempo e rumar pelo desconhecido à procura de praias desertas e virgens, águas transparentes e mornas, areia branca e palmeiras a perder de vista. O sol, mais colorido e selvagem do que alguma vez vi em qualquer outra parte do mundo, gira de uma forma contrária ao que estamos habituados, deixando-me muitas vezes baralhado e confuso. Os dias de verão começam às 4 da manhã quando o sol nasce e pouco depois já é possível sentir o calor abrasador que se faz sentir em África no verão. Acordar e ter a oportunidade de tomar um banho de mar para acordar, dar umas braçadas e sentir a natureza intacta. Sair da água e tomar um belo pequeno almoço de fruta e outros produtos que só em Moçambique são possíveis de encontrar. Passear pelas praias desertas e observar os carangueijos a entrar e sair da água ao ritmo das ondas, os golfinhos e baleias a nadar em harmonia enquanto os pescadores se desdobram em mil para encher os seus pequenos barcos de peixe fresco. Na praia é frequente encontrar ao final do dia, grupos de mulheres que apareçem de todos os lugares possíveis e imaginários com baldes e bacias na cabeça com a esperança de encontrar os barcos cheios de peixe e assim comprar o sustento da família. Tudo se aproveita e tudo se transforma. Desde os utensílios mais básicos até outros que nunca na vida alguém pensou poderem ser feitos artesanalmente, em Moçambique conseguimos encontrar um nível de criação e de habilidade criativa bastante grande. A imaginação e o trabalho manual serve para fazer quase tudo. Numa altura em que mais uma catástrofe natural atinge o país, toda a criatividade e energia são precisas para superar mais um desafio que só vem mostrar a todo o mundo o quanto este povo é forte, não só de corpo mas de espírito.

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 8

Quanto tempo falta para que tudo começe a funcionar como deve ser? O que realmente significa funcionar como deve ser? Esta discussão continua a alimentar várias conversas entre pessoas de várias idades, classes sociais e nacionalidades. Desmotivação, descrença e alguma falta de vontade começam a tornar-se evidentes em torno de todos aqueles que tomaram a decisão de apostar em Moçambique como uma nova etapa das suas vidas. Não está fácil de encarar o futuro quando as prespectivas começam a ser cada vez mais incertas e acima de tudo mais istáveis. O momento apela ao empreendorismo e ao salve-se quem puder! As ideias começam a fervilhar e cada dia que passa novas ideias e projectos inovadores surgem por toda a parte, numa cidade e num país que absorve tudo o que seja novo e inovador. As ajudas são poucas e os entraves aumentam a um ritmo elevadissimo. A creatividade está no auge. Apesar dos recursos não serem os melhores e da disponibilidade custar a diferença entre o óptimo e o medíocre, a creatividade está lá e o espírito começa a fazer a diferença nos pequenos momentos e nos detalhes em que ninguém está à espera de ver. Surpreendam-nos! À medida que os dias vão passando é o que a maioria das pessoas começa a ouvir por todo o lado. Os pequenos detalhes fazem a diferença e uma pequena diferença pode fazer um enorme sucesso. Por exemplo, como se pode fazer aumentar o consumo da água potável num país onde os refrigerantes são mais baratos que a própria água? Até onde pode ir a criatividade e a inovação para fazer perceber uma população que os benefícios da água são muitas vezes maiores que os benefícios de outras bebidas mais baratas, mais apetecíveis e mais desejadas? Aqui residem as pequenas diferenças que podem fazer com que tudo seja diferente. O poder da palavra é difícil de aplicar e de ter algum peso quando a maioria da população não tem nenhuma instrução e o acesso á mesma ainda está bem longe de ser uma realidade. A comunicação e a publicidade têm caracteristicas próprias e dificilmente aplicáveis em outros mercados, países ou continentes. O que faz com que tudo seja possível além de umas ajudas “divinas” e não ao alcançe de qualquer um, é também o poder encantar tudo e todos com aquilo que nunca nos passaria pela cabeça e que nunca nos daria a razão e o retorno no que quer que seja humanamente imaginável. Há que adaptar à realidade e ao mercado. Ver até onde um gestor pode trocar o seu escritório e todo os seus conhecimentos para aplicá-los numa empresa de segurança privada, ou numa empresa de construção cívil, ou numa imobiliária, ou até mesmo numa pousada recatada e familiar nas traseiras de sua casa em frente à praia. Ver ainda como uma decoradora de interiores ao mudar de cidade, muda de uma loja de decoração para um mini-mercado onde o mais perto que vende de decoração são as frutas para decorar a fruteira! Há que adaptar às necessidades do mercado e quando menos se espera pode ser que consígamos voltar às nossas origens académicas, aos nossos sonhos de realização profissinal, à nossa felicidade pessoal. Como em tudo na vida, nada acontece por acaso e todas as mudanças trazem sempre uma mais valia para p crescimento pessoal e profissional de cada um de nós. Só quem não muda ou não tem coragem para mudar, vai continuar a pensar que não existe mais nada para além do que já existe. As portas foram feitas para ser abertas, assim como as mentalidades. Quanto mais nos sentimos confortáveis no meio onde estamos inseridos, mais vontade temos de explorar o novo e o que está para além das portas que sempre vimos fechadas.

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Ìndico - part 7

Os dias vão passando e só quando se chega ao final do ano é que nos apercebemos como tudo passou a correr e que mais um ano que ficou para trás. Tantas coisas boas que ficam na memória deste ano de 2007 como de tristes. A chegada de mais um ano trás sempre a esperança e a confiança de que tudo será melhor e que irá haver uma solução para tudo aquilo que está fora do nosso controlo, ou pelo menos parece estar. A meteorologia é uma das provas disso. É difícil encontrar algum lugar no mundo onde as condições meteorológicas estejam de acordo com as estações ou com a época do ano. As catástrofes naturais acontecem cada vez com mais frequência e mais devastadoras. A segurança pessoal e o conforto de viver o dia a dia andam a ter muito efeito no bem-estar e na felicidade de grande parte da população. À medida que a informação se torna cada vez mais acessível e todos podem ver como se vive nos mais variados pontos do mundo, a ideia de nunca se estar bem em lugar algum ajuda a aumentar o desejo de migrar, não só à procura do clima ideal, mas à procura da felicidade e da realização pessoal. Para este ano que agora está a chegar, quero que seja um ano cheio de saúde para mim e para todos, muito dinheiro e acima de tudo cheio de realização pessoal. Não é nada fácil nos dias de hoje alcançar esse desejo na perfeição. A competição é grande e faz-nos lutar contra tudo e todos para conseguir mostrar e provar algum valor. Enquanto uns põem no papel todos os desejos e esperanças que desejam ver concretizadas em 2008, outros aproveitam para fazer uma análise ao ano que agora termina. Verdade seja dita, esta altura do ano é muito confusa. Tudo e todos andam a correr para se despedirem do velho e receber de braços abertos o novo. Por aqui, basta um fato de banho e uns chinelos e a festa faz-se em qualquer lugar onde haja muita praia por perto, água quente e Laurentina (cerveja moçambicana). Ao menos aqui ainda se pode fumar em quase todos os lugares públicos não estatais. Apesar de ser defensor de que não se deve fumar, acho que isso deve partir da iniciativa de cada um e não por imposição de terceiros, aqueles que apenas fumam charutos quando decidem o que os outros não devem fumar. O poder do poder está em todo o lado. O Partido. Qualquer que ele seja e onde quer que ele seja, ele pode ser decisivo para a vida de todos. Não fazendo parte dele, temos todos os entraves do mundo e mais alguns, mas se fizermos parte dele, é impossível descrever o poder que nos dá. As festas, nome dado ao período festivo que vai desde Dezembro a Fevereiro, faz com que seja um dos mais caóticos em Moçambique. Por todas as razões e mais alguma. A insegurança aumenta a um ritmo incrível, os assaltos vindos de todas as partes passíveis e imaginárias acontecem a qualquer dia, a qualquer hora e em moldes surpreendentes. O que é bom, por vezes tem defeitos que ninguém quer revelar e muito menos partilhar. Para que o próximo ano seja melhor que este é preciso que muita coisa mude, muitas ideias e ideais desapareçam e sejam substituídas por algo melhor. Como em qualquer outro final do ano, na minha cabeça, em qualquer que seja o lugar do mundo onde esteja nesta altura, a confusão é muita pois o tempo para rever o bom e o menos bom é cada vez menos e por isso deixa ainda menos tempo para preparar o muito bom que se quer que aí venha. Assim, e para que tudo seja como sempre quiseram e porque o Natal é quando o homem quiser, um óptimo ano de 2008. Cada um faz os seus desejos e cada um é responsável por torná-los realidade. O que interessa acima de tudo é nunca perder a alegria de viver!

in: Semanário Económico, CASUAL

terça-feira, dezembro 25, 2007

Barbas de milho


segunda-feira, dezembro 24, 2007

Massingir

Massingir - distrito de Gaza. Parece que estou a falar chinês, mas não. É mesmo português de Moçambique. Interior do país, fronteira com o parque natural do Limpopo e do Kruguer Park. Terra perdida no meio do nada, onde Judas de certeza perdeu as botas e nunca mais as voltou a encontrar. Muito castiça, devo dizer. Com personagens bastante interessantes e que vão voltar a ver-me por lá daqui a uns tempos para uma visita mais cultural e didática e menos profissional. Quente como voçês não imaginam, húmida como um pão de ló de Alfazeirão e com luz a gerador. Uma vila com luz a gerador das 8 da manhã ás 0 horas. Caricato e ao mesmo tempo um relógio que faz com que tudo gire em volta do gerador. Restaurante simpático com dois pratos na lista, muito mosquito e malária para dar e vender. O trabalho correu bem e a companhia estava à altura. Um bem haja ao Toni e ao Acácio pela ajuda e pela paródia de todos os dias.
Grande co-piloto e reporter fotografico, el Dijolo!!
O céu no meio do mato num dia de muito calor, muitas nuvens e muita chuva!!! O ínico da montagem do acampamento cigano.Descapotável com atrelado!!!A máquina, o motorista e os tronos para o REI!!!Quem encomenda recados, sarilhos arranja. Mais vale meter as mãos na massa do que andar a fazer horas extraordinárias. Vai chatear o *<#$%&/+~!!!!! A EQUIPA - Acácio, Tony, eu e o fotografo atrás dela!!!
A #$%& da confusão. Quem quer saber como funciona o protocolo e as visitas de estado em Moçambique, ou vem aqui e vê pelos próprios olhos ou pode contactar o je. Devo desde já dizer que este acontecimento foi maningue nice (muito bom mesmo).

Ares do ídico - Especial Natal

Pai Natal:

Começo por avisar que este ano estou em Moçambique, Maputo para ser mais preciso. Não é preciso dizer que me portei muito bem durante o ano de 2007 e que por isso mereço uma visita e pelo menos um presente! Tens de ter muito cuidado quando estiveres a chegar a Moçambique porque estamos na altura das festas e o movimento é muito grande, além de que aqui se conduz á esquerda ou seja, tens que ter muito cuidado para não andares com o teu trenó de renas em contra mão. Está muito calor e como teu amigo devo desde já avisar que deves este ano deixar o teu fato encarnado em casa e trocar por uns calções de banho, assim podes ir deixar o meu presente à praia da Ponta do Ouro e ainda dar um mergulho comigo! Sabias que aqui não há muito o espirito de Natal como nós temos em Portugal. Não só pelo facto de ser um país muito pobre e ainda a tentar lutar pelo seu desenvolvimento. Para quem está habituado ás luzes de Natal e todas aquelas decorações que são feitas para esta época do ano, aqui vai sentir que o Natal passa sem se dar por nada. Parece que tudo está ao contrário, e está mesmo. Por esta altura, em Portugal ou em outros países da Europa as pessoas aproveitam o tempo ao máximo para ir comprar os presentes de Natal e fazer os últimos preparativos da ceia de Natal, aqui em Moçambique temos que aproveitar todos os tempos disponíveis para ir até à piscina mais próxima ou quando o tempo estica mais um bocadinho ir até à praia. Está mesmo muito calor, e mesmo quando chove, o calor não dá tréguas. Mas como tudo na vida, temos que nos adaptar ás mudanças e viver com aquilo que temos. Para ser sincero, ás vezes até sinto falta do frio, das luvas, do cachecol e do gorro e de andar por Lisboa ( a minha cidade ) a percorrer as ruas iluminadas e enfeitadas com todas as decorações de Natal, as montras cheias de neve de algodão e mais uns quantos promenores deliciosos que só conseguimos dar mais valor quando estamos nestas situações de distância. Mas a verdade seja dita, passar o Natal na praia é um luxo, com os pés de molho em água quente, camarão e lagosta a substituir as filhoses, ameijoa e lulas no lugar dos frutos secos e mais umas quantas iguarias de comer e chorar por mais. O bacalhau é claro que não falta de qualquer que seja maneira de cozinhar. Não é fácil de encontrar a bons preços e a qualidade nem sempre é a melhor, mas a intenção está lá. Até porque sabe sempre melhor a roupa velha no dia de Natal, dentro de uma caixinha, acompanhado por um gin tónico ou uma cerveja e lá está, com os pés de molho na praia! Como eu gostava de ver o Pai Natal com as barbas de molho, com um gin tónico na mão! Esse sim era uns dos presentes que eu gostava de ter este ano, além de muita paz e amor no mundo, saúde para todos e que me saísse o euromilhões. O Natal em África tem um significado diferente, pelo menos visto por mim, já que esta altura do ano é verão e a grande parte das pessoas aproveita esta época do ano para ir de férias, viajar, passar algum tempo com a família que está longe, ou mesmo visitar a que está no estrangeiro. Para os expatriados é altura de ir a casa, Portugal, matar saudades da família e da mesa recheada e voltar o mais rápido possível para o fim do ano na praia. Por isso é um pouco difícil de descrever o espírito natalício em Moçambique. Que nada tem a ver com o nosso Natal e é vivido como um período de férias grandes em que se aproveita para viajar para o mais longe possível. Por isso, querido Pai Natal, não te esqueças de mim!

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 6

Quem foi que disse que a galinha do vizinho não é muitas vezes melhor que a minha? Na semana passada estive em mais um província moçambicana, neste caso a de Gaza, mais concretamente no distrito de Massingir. O trabalho consistia em pôr de pé um evento onde iria estar presente o Presidente da Républica de Moçambique para lançar a primeira pedra de um mega projecto de bio-combustível, etanol. As energias alternativas começam a ser cada vez mais apeteciveis para os grandes investidores estrangeiros, principalmente em países como Moçambique que possuem grandes áreas de cultivo disponível e mão de obra a um preço relativamente baixo. As garantias de sucesso para projectos deste tamanho são bastante elevadas e não há quem agradeça mais com este tipo de iniciativas do que a população que está fora dos grandes centros urbanos. Apartir da cana de açucar é possível chegar ao etanol como combustível alternativo aos derivados do petróleo, como também produzir açucar refinado e ainda energia eléctrica para consumo doméstico.É preciso encorajar este tipo de iniciativas, apesar de, como em qualquer outro lugar do mundo ter de satisfazer várias pessoas até se conseguir ver algum resultado. Coisas da vida e dos negócios! A história da galinha surge num desses dias perdido no meio do mato moçambicano, paredes meias com o parque natural do Limpopo e o Kruger Park. Era preciso alimentar muitas bocas e como o trabalho não faltava para ninguém, calhou-me a mim ir buscar o mata bicho (termo moçambicano utilizado como paragem a meio da manhã para recarregar baterias e o estômago), para uma parte dos trabalhadores. Chegado ao único restaurante da vila de Massingir, e com uma ementa variada de dois pratos que iam da sandes de ovo até ao frango no churrasco com xima (espécie de puré feito com farinha, água e sal), desta vez optei por presentear o pessoal de trabalho com frango. O tempo de espera é sempre um factor de risco e muito maior do que se pode encontrar em qualquer outra churrasqueira de bairro, já que ao fim de algum tempo a viver em Moçambique, também já me adaptei aos horários normais e aos horários moçambicanos. Horário normal é aquele que funciona à hora marcada, o horário moçambicano é aquele que funciona sem horas e muitas vezes sem presenças, como se costuma dizer, serve para nada! Mas qual foi o meu espanto quando o dono do restaurante me disse que o processo iria demorar um bocadinho mais do que o previsto porque ainda tinha que ir falar com o seu vizinho para ver se ele lhe dispensava algumas das suas galinhas de forma a poder satisfazer o meu pedido. Galinhas encontradas, agora só faltava matar e depenar o nosso almoço, processo que eu já não assisti e que aproveitei o tempo para tratar de outros afazeres. Para aqueles que poderiam pensar que o famoso frango no churrasco vinha de uma embalagem de dentro de um congelador de supermercado, engana-se. Muitas vezes vem do quintal do vizinho... Certos prazeres da vida têm outro encanto em situações como estas, onde tudo falta e o pouco que há sabe como ostras e caviar!

in: Semanário Económico, CASUAL

Ares do Índico - part 5

Para muitos, África é sinónimo de um continente desconhecido onde tudo é selvagem e virgem. A ideia de viver ou viajar para um dos muitos países de África provoca um misto de emoção, aventura e pânico! Não é muito difícil encontrar opiniões de pessoas que julgam que qualquer que seja o país da África Austral, os leões andam soltos pela rua, os macacos a passear em todas as árvores e mais umas quantas descrições tiradas do filme do Mogli, o Livro da Selva, que apesar de ser uma banda desenhada inspirada na selva indiana e que vai ser apresentado com uma nova edição alusiva aos seus 40 anos de existência, não deixa de alimentar o imaginário de todos aqueles que nunca viram um animal vivo a não ser no jardim zoológico! E quem diria que depois de passar horas seguidas, muitas unhas roídas, dias intermináveis de gargalhadas e de sustos, sempre a queimar as pestanas para não perder um único segundo das aventuras do pequeno Mogli no meio da floresta, um dia seria eu o escolhido para viver todas essas aventuras e sentir todas as emoções de não só sair de casa, como do meu país e ainda do meu continente. Parece uma descrição um pouco dramática e nostálgica, mas só quando se sente uma mudança destas na pele é que é possível dar valor a tudo aquilo que nunca nos passou pela cabeça. O bom e o mau andam sempre de mãos dadas e cada vez mais os pequenos prazeres da vida são aqueles que nos dão um sorriso de orelha a orelha e nos deixam na espectativa de podermos todos os dias sentirmos aquela mesma sensação. O desconhecido acompanha qualquer um que viva em África. O poder de andar por caminhos onde provavelmente nunca ningém andou e ver aquilo que nunca ninguém viu, faz com que muitos não queiram mais sair daqui ou pelo menos, nunca mais deixar que África saia do seu coração. Como em tudo na vida e como já referi antes, o bom e o mau andam sempre de mão dada e não é nada, mas mesmo nada dfícil encontrar e ver situações e pessoas que dão a pior das imagens possíveis, tornando cada vez maior a distância entre povos e culturas, por apenas alguns dias de prazer íngrato ou por alguns milhões ganhos com a miséria e desconhecimento de muitos. O poder das novas gerações está na simbiose criada entre o trabalho e o lazer, a diversão e o voluntariado. Não só por ser Natal, mas por estar em África. Voluntariado é como o Natal, é sempre que um Homem quiser. As imensas necessidades básicas em quase todos os sectores da população, faz com que nunca seja demais uma mão amiga, uma peça de roupa, um pedaço de pão e muitas vezes um ouvido de alguém, que por muito difícil que seja de entender os mais de vinte dialéctos existentes em Moçambique, para ajudar a dar a conhecer o que de novo há para além de Moçambique como para saber o que de tão puramente virgem existe nesta imensa terra que através de ganância e ódios é destruída e vendida a troco de nada. O voluntariado tem um peso e uma importância enorme, muitas vezes confundida com o facto de estar a substituir a população e a sua auto-motivação para aprender e fazer por desenvolver as suas necessidades básicas do dia a dia. O voluntariado começa a ser uma arma de dois bicos e muitas pessoas querem que isso deixe de acontecer. Não é por alguma razão que se chama calamidades aos desastres naturais que ninguém pode prever ou antecipar, aqui, calamidades ´o nome que se dá aos mercados onde são vendidas as roupas e outros bens que são doados não só para as causas do voluntariado, como também através de instituições religiosas. O espanto daqueles que depois de umas férias menos luxuosas e de algumas aventuras por dentro da vida urbana de Maputo conseguem encontrar em algum lugar mais inesperado uns ténis ou uma camisola ou até mesmo um brinquedo que foi dado a alguma instituição religiosa ou não, para daí ser encaminhada para os países mais necessitados. Não é por ser Natal, nem por ser Moçambique, nem por ser eu. Mas só quando se está a viver com estas situações que dá para ver a diferença da televisão para a realidade, que muitas vezes não é nada abonatória.

in: Semanário Económico, CASUAL

terça-feira, dezembro 04, 2007

Fim de semana com o MORTO

Para quem conhecia bem e já à uns anos, o Tico e o Teco este fim de semana tiveram um programa intenso e doloroso. Não sabe quando voltarão a ser vistos, mas todas as medidas estão a ser tomadas para que eles voltem cheios de força e preparados para a época das festas que se avizinha!! Festinha de musica muito nice, passeio pela praia com almoço de marisco e muita cerveja, viagem até á Swazilandia e ás cascatas da Namaacha (foi pena estarem sem água, alguém deve ter levado o pipo por engano!!)Concerto no Franco-Moçambicano dos 340ml e mais umas bandas amigas e uns djs amigos e um granda som e muita cerveja!! Parecia que estávamos na terrinha!!! Até a luz era mais branca!!! Que maravilha, só foi pena ter sido durante a semana!! A sexta feira custou tanto que voçês nem imaginam!! ou até que imaginam...

O jardim é sempre bom para descansar e ganhar forças para mais um pézinho de dança e bailarico, infelizmente nao me abanei todo como queria devido aos azares da vida!!

Há que realçar o aniversário do sr. Director Criativo que completou mais um ano, a loja do Simão que se tornou o nosso porto de abrigo, a reportagem pouco fotográfica do sr. Director de Arte e a excelente performance do sr. Engenheiro de Produção, que encostou á boxe com um pinta desgraçada!!! Há que ir aos treinos e fazer bem os trabalhos de casa!!!
Adivinha: quem está na foto????

Grades no carro

Desta vez só vão as fotos do depois. Antes eram iguais mas sem as grades de anti roubo, que se tudo correr bem vão aguentar pelo menos a altura das festas, que dizem ser só o Natal, mas como sabem o Natal é quando um homem quiser. Não fica muito bonito mas pelo menos atrapalha quem faz do fananço de piscas uma profissão e assim sempre vão procurar outro a quem chatear. Fica a faltar a foto dos espelos que ainda não tem grades mas pelo menos ja estão colados até próxima surpresa!!

Farfalhota pimpinela

Desde puto que tenho o fascinio dos bigodes! Deve ter sido por o meu pai usar bigode e achar aquilo interessante. À medida que fui crescendo, o bigode foi aparecendo mas sempre sem grande força de vontade ou autoridade. Depois de muitas barbeadelas e aparanços ele ainda teima em não se revelar aquele bigode barbudo e consistente. Invejo muito os gajos que participam naqueles concursos de bigodes e que fazem maravilhas com eles!! De á uns dias para cá decidi deixar crescer a barba (há que começar por algum lado)!! Sempre com o bigode em vista, já que não há emigrante que se preze se não ostentar um belo par de cabelos por baixo do nariz. A coisa está a andar mas continua sempre a imagem de um cigano mal afortunado. Vamos deixar passar mais uns dias e ver em que isto se torna. Aqui fica um antes e agora. Esperemos que o futuro seja risonho para o BIGODAÇO!!!
ACEITAM-SE PROPOSTAS PARA O FARFALHO!!!!

Espelho para peões!!

Apesar de na foto não ser bem visivel, existe um espelho na parte da frente da maioria dos carros em Moçambique. O meu CHOCO-MOBILE não foge à regra. Muitas vezes me perguntam para que serve e eu fico sempre na mesma. Para mim não serve rigorosamente para nada, e sei que mais dia menos dia vai ser roubado por alguém. Uma das utilidades que deve ter, eplo menos o meu, é para ajudar os transeuntes de vez enquando a verem-se ao espelho, tal são razias que eles levam. Para não sofrerem de JIPOSE (doença já abordada neste blog) eles conseguem ver a doença de frente ou de lado consoante o ângulo através deste miraculoso espelho, depende do como eles atacam o carro!! Vamos ver até quando é que ele se vai aguentar lá e salvar algumas vidas!!!




segunda-feira, novembro 26, 2007

Ares do Índico - part 4

O calor é sufocante. Ninguém diria que estamos a chegar ao Natal, a não ser pelo calendário! Para os ocidentais esta época significa frio, árvores de Natal, compras e muitas surpresas. Em Moçambique existem alguns pormenores que nos fazem perceber que estamos longe de casa, e não é só por causa do bacalhau. Os dias começam a ficar cada vez mais quentes, ao ponto de chegar a ser desesperante. Cada oportunidade é boa para tomar um banho e fugir ao calor. Os ares condicionados, além de serem um bem essencial chegam a tornar-se uns dos melhores amigos do homem! As decorações de Natal resumem-se a algumas lojas espalhadas pela cidade que aproveitam esta altura do ano para investir um pouquinho mais em publicidade, mesmo que esse investimento venha a fazer parte das surpresas da época! O bolo rei está quase a aparecer, só falta saber se este ano ainda vem com brinde. No capítulo das compras tenho que referir que este mês foi muito importante para todos os moçambicanos e em especial para todas as senhoras, qualquer que seja a idade. Foi inaugurado pela segunda ou terceira vez e abriu as portas ao público pela primeira vez, o Shopping de Maputo. Muito necessário para a altura do ano que estamos a atravessar, o Shopping abriu com alguns atrasos mas sempre cheio de boa vontade, apesar de metade ou mais de metade das lojas do dito espaço ainda estarem à procura de dono. A oferta é muita, mas ainda que limitada. Dos sapatos aos telemóveis, com algumas lojas de roupa e um supermercado generoso, onde se conseguem encontrar algumas relíquias que nem no nosso querido Portugal é possível. A parte as suspresas da época de Natal, para mim é a melhor. Qual foi o meu espanto quando percebi que para mim havia chegado o Natal na manhã de segunda feira, logo depois de ter posto o carro a trabalhar para começar mais uma semana de trabalho e reparo que não tinha espelhos no carro! Não é normal, mas os piscas já tinham tido a mesma sorte no mês passado, e por isso tive a confirmação, o Natal chegou. O que o pai Natal dá, por aqui alguém tira, sempre na esperança que o dono vá buscar os seus pertences e pague por eles. Para aqueles que a sorte da vida foi madrasta, o último reduto fica-se por serem os responsáveis por estas belas surpresas. É de referir que nesta altura do ano, tudo o que é peças de automóvel que não esteja bem presa, colada, marcada com algum sinal ou matricula do carro ou mesmo presa com rebites, pode ser incluida na lista de presentes a pedir ao Pai Natal. Espelhos, piscas, escovas limpa vidros e os outros dois items que variam de marca e modelo de automóvel, estão entre o top 5 das preferências dos amigos do alheio. Por isso, ao meu Pai Natal vou pedir este ano, além de muita paz, amor e saúde para todos, uma garagem para poder trancar o meu carro ás sete chaves! Não querendo ferir suspceptibilidades com esta descrição, mas prefiro gastar dinheiro naquilo que faço melhor que é viajar, do que andar a comprar vezes sem conta aquilo que já é meu!!

in: Semanário Económico, CASUAL

Gel de Banho

Desde alguns anos a esta parte que deixei de usar sabonete para tomar banho. Não só pelas histórias que se ouvem constantemente sobre os variados usos do sabonete nas prisões, na tropa e em escolas mais selectivas!! Mesmo o azul e branco já só serve para lavar as mãos depois de mexer no motor do carro! Gel de Banho é o que está a dar e sem dúvida que um bom apelido para qualquer amante da bolhinha de espuma e da pele hidratada!! Ou será que este é primo do outro dos sabonetes de Marrocos???

quinta-feira, novembro 15, 2007

Maputo vista do terraço

Quando o calor aperta e o stress aumenta, não há nada melhor que ir até ao terraço do prédio onde trabalho e dar uma vista de olhos!!! Uns saltam outros descem de elevador!!